domingo, 17 de março de 2013

JORNALISTA BEM-HUMORADO DÁ DICAS DE LUGARES PARA CURTIR EM SP CAPITAL, LITORAL E INTERIOR

Que delícia conhecer o trabalho do jornalista e publicitário Pedro Schiavon que já escreveu para a Tribuna de Santos e diversas revistas. Seu site www.lugarzinho.com.br traz muita informação e curiosidades sobre bares e restaurantes de SP. Como todo bom jornalista, ele não se limita a escrever sobre o que viu e pronto. Ele pesquisa a origem dos lugares, levanta dados curiosos e se utiliza de uma linguagem muito bem-humorada, que beira a literatura sarcástica... mas sempre com muito bom gosto na escolha das palavras. Faço questão de falar desse site porque há muito tempo não encontro jornalistas com esse tipo de narração... muito cheia de estilo e personalidade. Assim, navegar pelo "Lugarzinho" não é somente interessante para descobrir lugares novos ou clássicos que merecem ser revisitados, como também ter contato com um texto delicioso de se ler. Selecionei um deles, sobre o bar Torto de Santos (que fica no prédio mais torto da cidade). Leiam e vejam se não dá vontade na hora de pegar a estrada e ir até lá.

Inconscientemente, talvez o tema tenha me chamado a atenção porque tb tenho "torto" no meu nome. Chueco, em espanhol, significa pessoa com pernas ou pés tortos ou pra fora. Coincidentemente eu mesma tenho pés "dez pras duas", sabe? Agora o site ganha quatro novas seções: Lojinha, Cult , Papo de  Bar e Sementes Urbanas. "Essa última  é voltada para projetos e iniciativas que busquem o melhor aproveitamento da cidade por seus moradores. São ações que visem a boa utilização e a melhoria de espaços públicos e programas especiais para fazer com os amigos, tenham eles duas ou quatro patas", diz. Bom... tá na cara que o Pedro é amigo dos peludos. Mais um jornalista entra para esse time que cresce sem parar. 

 Seção Sementes Urbanas dará dicas de locais para se entreter com amigos de duas ou quatro patas

 Leiam o texto do Pedro:

Se eu falasse tudo o que se há para falar sobre o Torto, provavelmente eu seria preso ou assassinado. Certas coisas não se conta por aí. Quem viu, viu e pronto. A noite foi feita para esquecer. E o resto é lenda.
Não é verdade, por exemplo, que quando Braz Cubas fundou Santos, o Torto já estava lá. Isso é exagero, apesar do grande interesse dos arqueólogos pelas mais diversas espécies de dinossauros encontrados ali dentro, em sua maioria vivos e bem tratados. Também é mentira que Isaac Newton não tenha reconhecido a prova, quando o público do Torto desmentiu sua máxima, provando que diversos corpos podem, sim, ocupar o mesmo lugar no espaço. Isso no Torto é comum.



O fato é que o Torto nasceu em 1984 da então já existente Banda Jornal do Brasil, formada pelo músico, jornalista e mito local Julinho Bittencourt, o Roberto Biela (que hoje também toca muito Chico Buarque no Roda Viva, em Sampa) e o  Luís Cláudio dos Santos, que, acompanhados do Alfredo, tio do Julinho, cismaram de montar um bar onde a própria banda e mais algumas outras pudessem tocar todas as noites.
O lugar escolhido era o mais improvável de todos: uma pequena loja no térreo de um imenso edifício de apartamentos que era um dos mais tortos da cidade, a ponto de ter sido interditado nos anos 70. Ali, na raça, eles mesmos ergueram paredes e correram atrás de fornecedores, de pessoal para trabalhar, da divulgação boca a boca e da definição do nome que, claro, não poderia ser outro.


Como em qualquer bar, há ali uma boa variedade de bebidas, da caipirinha aos mojitos, da água ao whisky, mas o calor sempre faz com que o público se direcione às cervejas. Também como em qualquer bar, há boas opções de porções – como a de isca de merluza, uma das preferidas – e de sanduíches – como o beirute de frango com catupiry, que já se tornou um clássico mata-larica da fauna noturna.

Mas o Torto não é um bar qualquer e, por isso, desde a sua inauguração, há quase três décadas, ele segue lotado.É claro que houveram períodos de baixa. Muita coisa rolou, o Alfredo saiu, depois o Luís, o Michel entrou, o Biela saiu, depois o próprio Julinho, mais gente chegou e por aí vai. Teve até períodos de pouquíssimo público, até com boatos de fechamento, mas todos foram rápidos e passageiros, pois o padrão é a lotação e assim deve ficar eternamente.A casa inaugurou com 600 pessoas que, sabe-se lá como, fizeram questão de entrar. Diz a lenda que muitos nunca mais saíram.


O que faz do Torto uma casa tão especial é uma coisa só: a música. O bar sempre foi dirigido por músicos e assim este sempre foi o centro de tudo. A seleção é eclética, com ritmos latinos, samba, reggae e afins, mas apoiada principalmente no rock e na velha e boa MPB, como indica o painel feito pelo Oswaldo, que mistura Beatles, Pixinguinha, Cartola e Jimi Hendrix num mesmo cenário. Por ali já passou muita gente boa, dos simpáticos garçons ao saudoso “Seo Zé”, que cuidava tanto da entrada quanto da saúde dos freqüentadores. No som, nem se fala. Além do próprio pessoal da Jornal do Brasil, o minúsculo palco da casa já foi habitado por sons tranqüilos para quem chegava cedo, com o Carlos Pontes ou o Adriano Branco; por bandas reggaeiras como o Arte Cínica, a Macaco Prego ou o Casa Rasta, que tinha o hoje repórter Abel Neto nos vocais; pela turma rockeira do Via Rock ou do Discover; por bluseiros como os Druidas, por bandas hoje já clássicas Carlos Bronson e Blasfêmia, do múltiplo João Maria; por gente que depois saiu cantando Brasil afora como o Murilo Lima e o pessoal do Charlie Brown e por um mundo de gente que sempre fez a noite santista musicalmente privilegiada.

Charlie Brown Jr tb esteve no Torto, afinal, Chorão era na Baixada Santista

E por ali ainda há de passar muita coisa boa, gerações e gerações da música de qualidade. A fiel multidão já sonha com as festas de 30 (que está próxima), 40 e 50 anos do Torto, de preferência com as mesmas bandas, o mesmo pessoal e a mesma lousa na entrada anunciando as atrações da noite.
Que o Torto siga firme e forte, mantendo seu grande e difícil mérito de dizer “não” ao sucesso fácil em prol da qualidade musical. Que siga cumprindo seu papel de “desencaminhar garotos e garotas fadados a uma vidinha careta” na cidade. Estaremos todos lá, afinal, somos muitos e todos tortos.

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