segunda-feira, 18 de abril de 2016

DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL. MAS ONDE ESTÃO OS PERSONAGENS NEGROS?



HOJE É O DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL. A data de 18 de abril foi escolhida por ser nascimento de Monteiro Lobato, famoso pela criação do Sítio do Pica-Pau Amarelo, considerado um dos maiores clássicos da literatura brasileira. Lobato é autor também de “Caçadas de Pedrinho” – livro que passou a gerar muita polêmica nos últimos anos devido ao tratamento dado aos personagens negros. Em 2014 o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou um parecer sugerindo a exclusão do livro Caçadas de Pedrinho das escolas públicas - sob a alegação de que a obra trazia conteúdo discriminatório.

Veja alguns trechos:
Pg 26: “Tia Anastácia tem carne preta”
Pg 39: “Tia Anastácia... trepou que nem uma macaca de carvão”
Pg 41: “E você, pretura?” – Emília pergunta à Tia Anastácia.

O livro é de 1933, ou seja, 45 anos após a abolição da escravatura no Brasil. Algumas pessoas defendem Lobato dizendo que ele quis destacar em suas histórias o tratamento dado aos negros, mas estudiosos argumentam que os tratamentos mostrados nos livros podem reforçar o preconceito nas crianças. Eu, particularmente, acho bem mais provável a segunda opinião. Afinal, é na infância que formamos muitos de nossos conceitos. É inútil tentar combater o racismo em adultos se eles crescem se encantando com histórias onde o negro nunca é herói, príncipe ou princesa. Daí um adulto chama um negro de “macaco” na rua e isso é crime de racismo. E é mesmo, mas foi plantado lá trás, nas aparentemente “inocentes” histórias infantis como as de Monteiro Lobato.


A figura do negro em Monteiro Lobato. Marisa Lajolo
http://www.unicamp.br/iel/monteirolobato/outros/lobatonegros.pdf
Cartilha Preconceito não é legal: a intolerância e a lei http://www.faac.unesp.br/extensao/convdiversidade/cartilha.pdf

CRIANÇAS MATANDO ANIMAIS SELVAGENS

Mas há outro aspecto a observar nesse livro tão consagrado e até hoje bastante indicado para crianças: a caça aos animais selvagens. Pedrinho arma uma cilada para uma onça-pintada (animal cada vez mais raro em nossas matas) e ela é morta de forma violenta pelas crianças. Isso faz com que outros animais se rebelem contra a turma de Pedrinho, mas eles conseguem escapar e ainda aprisionam um rinoceronte no sítio alegando amizade com o bicho que fugira de um zoológico. OU seja: TUDO ERRADO!

A história motiva as crianças a temerem animais selvagens e tratarem-nos como inimigos. Motiva a CAÇA! Motiva o desrespeito à fauna! Dá para defender a obra nesse quesito?

                                           Ághata com figurino da Chapeuzinho Vermelho

Pensando em todos esses aspectos, especialmente aos ligados ao negro, é que estou produzindo uma série de histórias infantis baseadas em obras clássicas onde o negro grande destaque na figura de uma gatinha preta, a Ághata Borralheira. Ela ocupa o lugar de personagens principais que sempre foram retratados como brancos, procurando inserir o negro no universo infantil e também ajudando no combate ao preconceito contra animais pretos. 

Enquanto as histórias estão sendo produzidas, ricamente ilustradas com fotos da Ághata verdadeira (porque de fato ela existe e é uma de minhas três gatinhas), criei uma página no facebook com muitas fotos e vídeos divertidos com a Ághata para começar a divulgação desse trabalho. Acesse https://www.facebook.com/aghataborralheirabook/


Curta a página e ajude a espalhar essa ideia! Sugira a grupos ou pessoas que lutam contra o racismo. O respeito deve ser cultivado na infância para que não se tenha que ficar punindo ações racistas em adultos. E já está mais do que na hora da gente mudar esse cenário! Ajude a plantar essa semente!

Texto: Fátima ChuEcco

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