quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Por que muitos animais perdidos microchipados nunca voltam para casa no Brasil?


Se você pensa que microchipar seu cachorro ou gato garantirá que ele volte para você no caso dele se perder ... atenção ✋... leia essa matéria. O microchip aumenta "um pouco" as chances do tutor ser localizado, mas para realmente ser eficiente teria que existir um banco unificado de dados - o que não ocorre no Brasil.

Assim, caso um animal doméstico perdido nas ruas seja resgatado e levado a um veterinário que possui leitor de microchip, apenas será conseguido o número do microchip dele. Só isso. Depois será necessário descobrir onde aquele microchip foi cadastrado: pode ter sido no centro de zoonoses da cidade ou em qualquer um dos inúmeros bancos de dados espalhados pelo país.

Muita gente até procura em diversos bancos e não encontra, o que torna o microchip daquele animal totalmente inútil para que ele retorne a sua família. 

Muitos já devem ter ouvido falar de casos em que o cachorro ou gato conseguiu voltar para casa "anos" depois de perdido por meio do microchip. Mas repare onde ocorrem esses casos: são em países onde existe banco unificado de dados.

A Associação Americana de Médicos Veterinários (AVMA), por exemplo,  fez um estudo com mais de 7.700 animais de abrigos dos EUA e constatou que 52% dos que tinham microchip, com dados atualizados no banco unificado daquele país, voltaram para casa.

Gigi e Ronny

A artista plástica Karina Polycarpo, brasileira que mora na África do Sul, é tutora dos dois cachorrinhos, Ronny e Gigi, que ilustram essa matéria. Ambos microchipados num sistema nacional de dados. 

Vejam a experiência que ela teve com um cachorro perdido:

"São poucos cães que vemos nas ruas porque aqui é obrigado a microchipar. Então, quando a gente vê um cão meio desnorteado sozinho já sabemos que deve estar perdido.  Levei um cachorro perdido no meu bairro numa clínica próxima. A veterinária verificou o microchip e já teve acesso aos dados dos tutores. A própria clínica entrou em contato e deixou o animal aguardando por sua família numa sala. Eu nem precisei ficar com ele até seus tutores buscarem".

Atualmente, no Brasil, alguns convênios de saúde pet exigem microchipagem em sua rede credenciada, mas se o animal se perder, os dados dos tutores só poderão ser acessados se ele for levado numa dessas clínicas. Caso contrário será necessário pesquisar em vários bancos de dados até achar o cadastro.


Você pode mudar essa situação

Pensando na ineficiência da microchipagem no Brasil, o Sindimvet - Sindicato dos Médicos Veterinários de SP, com apoio do CRMV - Conselho Regional de Médicos Veterinários de SP e do Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio de Janeiro, está pedindo aos tutores e amantes de animais que apoiem, por meio de votação online, a "ideia legislativa" de um banco de dados "nacional" que reúna os microchips de todos os animais do país.

"Se houver um apoio generalizado da população em favor de um banco de dados unificado, os legisladores podem se sentir inclinados a atender essa demanda. É importante envolver a sociedade civil, organizações de proteção animal e os próprios cidadãos na discussão desse assunto e mostrar o apoio público à proposta", diz Robson Léporo, presidente do Sindimvet e da instituição Santa Causa da Misericórdia Animal.

"Os benefícios do sistema de banco de dados unificado incluem: rastreamento e identificação mais eficientes de animais perdidos ou roubados, facilidade de localizar os tutores legítimos, promoção da posse responsável, melhoria da segurança pública reduzindo o comércio ilegal de animais e ajudando a combater maus-tratos, planejamento mais eficiente de recursos e serviços relacionados a animais de estimação, dentre outros", explica Léporo.


Ele cita alguns países:"O Reino Unido possui um sistema chamado Petlog, que é o maior banco de dados de animais de estimação do país. Facilita a identificação e o retorno de animais perdidos aos seus proprietários, além de ajudar no controle de doenças e na promoção da posse responsável.  Na Austrália, o National Pet Register também é um banco de dados nacional. A Suécia possui o banco de dados centralizado chamado DjurID".

AJUDE o Brasil a ter um banco de dados nacional apoiando a ideia legislativa no portal e-Cidadania AQUI 

Mas atenção: antes é preciso se cadastrar no site. É simples e rápido. 

Nem todo animal na rua é animal abandonado

São 30 milhões de animais nas ruas do Brasil segundo estatística da OMS – Organização Mundial de Saúde, sendo aproximadamente 20 milhões de cães e 10 milhões de gatos. Mas nem todos nasceram nas ruas.  Na verdade, boa parte deles foi abandonada ou se perdeu e nunca mais foi encontrada pelos tutores.

Outro levantamento, do Instituto Pet Brasil (IPB), aponta que 3,9 milhões de animais do país vivem em condição de vulnerabilidade (ACV). Isso quer dizer que estão sob o cuidado de famílias abaixo da linha da pobreza ou vivem soltos nas ruas, mas são atendidos de alguma forma por protetores e ONGs. E entre esses também estão cães e gatos que um dia se perderam de suas famílias.

As colônias de gatos, por exemplo, muito comuns, especialmente em parques, praças e terrenos baldios, geralmente também abrigam felinos que não conseguiram encontrar o caminho de volta para casa. 

Muitos cães e gatos mantidos em abrigos municipais e de ONGs, às vezes durante longos anos, na verdade se perderam e nunca mais foram achados pelos tutores. Por isso, a microchipagem pode ser vista também como um ato de amor, que visa maior segurança do animal e aumenta muito as chances de um feliz reencontro caso o bichinho se perca, DESDE que tenhamos um banco de dados unificado.

SUGESTÃO 🐶🐱: 

No site www.abrachip.com.br vc pode cadastrar GRATUITAMENTE o microchip de seu cachorro ou gato, de qualquer lugar do país, e colocar dados dele, fotos e seus contatos. Já tem mais de 700 mil cadastros. É uma opção enquanto não temos um banco nacional onde todas as prefeituras e clínicas particulares cadastrem os animais.

Entenda como funciona a microchipagem

Consiste na implantação de um dispositivo eletrônico subcutâneo do tamanho de um grão de arroz no dorso do animal. O método utiliza um aplicador especial e é indolor. O microchip não precisa de nenhum tipo de recarga e nem ser substituído de tempos em tempos (dura toda a vida), não tem restrição por idade ou condição de saúde, e não provoca alergias ou desconforto.

A microchipagem gera um número que o tutor, em seguida, cadastra em bancos de dados da sua preferência, com informações sobre o animal como idade, registro de vacinas, histórico de doenças e medicações. 

Pesquisa e texto: Fátima Chu🌎Ecco, jornalista, escritora, consultora da @buscacats e fundadora da editora @miaubookecia



 

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