Na última manifestação a PM usou tanques blindados, helicópteros e até a cavalaria. Além da Tropa de Choque, policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e da Força Tática atuaram na repressão, totalizando efetivo de 900 homens. As manifestações acontecem num clima já bastante "quente" em SP, quando as pessoas estão sendo assaltadas e mortas na frente ou dentro de suas casas. A violência cresceu 70%. Todo mundo está com medo de ser morto por um celular ou ser incendiado vivo. Por que há tantos policias e até tropa de choque nas manifestações, mas não há o mesmo policiamento nas ruas? Em meio a esse clima de repressão policial, flagrado por câmeras e repleto de testemunhas, ainda tem gente dizendo que sente saudade da ditadura. Certamente são pessoas que não andam de ônibus e não sabem o que é chegar esgotado no trabalho ou em casa depois de uma condução absolutamente lotada. O transporte público (no que se refere aos ônibus) não melhorou de qualidade, então o que justifica o aumento?
Houve vandalismo? Sim... sempre há pessoas mal intencionadas infiltradas em todos os protestos. Mas há também a truculência policial que faz a massa de manifestantes entrar em pânico. Para que as balas de borracha? Para que os cães? A PM já tem escudo, capacete, cassetete, colete, gás lacrimogênio e gás pimenta. E usa tudo!!! Precisa mais? Se tem uma coisa que não mudou desde os tempos da ditadura é a ação policial em meio a protestos. Continuam tratando como se fosse uma guerra civil, mas não é, pois, os manifestantes, em geral, não estão armados.E o que isso gera? Insatisfação geral. E mais violência e revolta de ambos os lados. E faz as pessoas pensarem: pera aí... cadê o direito de protesto? Todo mundo tem um filho, sobrinho, amigo ou vizinho no tumulto. E sabem que não são bandidos. Então por que essa violência toda? Assim, do protesto de uma minoria contra o aumento de 20 centavos na passagem, a coisa vai crescendo para revoltas maiores.
Abaixo a matéria que trata da lei que pretende incluir movimentos sociais como terroristas e, na sequência, links de outras matérias e o relato da jornalista da Folha postado em seu facebook::
O GLOBO
Publicado:
13/06/13 - 16h27
BRASÍLIA
— A possibilidade de inclusão de ações violentas de movimentos sociais, como o
MST ou Movimento Passe Livre (que organizou as manifestações contra alta da
passagem de ônibus em São Paulo) na nova lei que define os crimes de
terrorismo, provocou um impasse nesta quinta-feira na Comissão mista do
Congresso criada para consolidar a legislação federal e regulamentar
dispositivos da Constituição de 1988. Com a realização de grandes eventos
religiosos e esportivos no país, a aprovação de projeto de lei com a definição
penal do crime de terrorismo terá prioridade na comissão. Mas a votação foi
adiada para o dia 27, sem consenso entre o sub-relator do tema segurança
pública, Miro Teixeira (PDT-RJ), que é contra parte do parecer do relator
geral, Romero Jucá (PMDB-RR), que abre essa possibilidade de inclusão dos movimentos
sociais.
Pelo
texto apresentado hoje por Jucá, o artigo 2 define como crimes de terrorismo: “
Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa à vida, à
integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa, por motivo ideológico,
religioso, político ou de preconceito racial ou étnico”. Miro protestou e pediu
a retirada da parte que diz “por motivo ideológico, religioso, político ou de
preconceito racial ou étnico”.
— Quem
defende suas reivindicações não pode ser enquadrado como terrorista —
questionou Miro Teixeira.
— Mas e
se esses movimentos reivindicatórios colocarem em risco a vida dos cidadãos!
Para mim se sequestrou um avião, independente de ser um movimento social ou
não, é terrorismo, independente de motivação — questionou o líder do PSDB no
Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), apoiado pelo senador Pedro Taques
(PDT-MT).
— Mas e
se o movimento social, para defender suas reivindicações, sequestra um avião,
solta um bomba, faz um atentado ou explode um avião? — continuou Jucá.
Miro
sustentou então, que se isso acontecer, os responsáveis vão responder por
homicídio e ou pelos crimes praticados.
— Tenho
medo dessa amarração ideológica, religiosa ou por preconceitos raciais. Se
deixar no texto essa parte das motivações, vai gerar sete mil interpretações —
argumentou Miro.
Sem
acordo, Jucá prometeu apresentar um outro texto na semana que vem, retirando a
parte criticada pelo sub relator.
— A ideia
não é enquadrar os movimentos sociais. É preciso buscar um caminho para não
confundir protestos com terrorismo — recuou Jucá.
Miro
também protestou e deve ser mudado o parágrafo 2º desse mesmo artigo, que prevê
o aumento da pena em 1/3 se o crime for praticado contra autoridades:
presidente da República, do Senado e Câmara e do Supremo Tribunal Federal
(STF). Miro argumentou que esse entendimento já estava superado pela Lei de
Segurança Nacional (LSN), e o crime contra autoridades não poderia ser
considerado mais grave do que se praticado contra o cidadão comum.
As penas
serão aumentadas até a metade, se as condutas forem praticadas durante grandes
eventos esportivos, culturais, educacionais, religiosos, de lazer ou políticos,
nacionais ou internacionais.
— É
desagradável repetir a técnica e a mentalidade da LSN, que considera mais
intocáveis as autoridades do que o cidadão comum — disse Miro.
O senador
Aloysio Nunes sugeriu, então, que aproveitassem a discussão da lei do
terrorismo para atualizar a Lei de Segurança Nacional.
— Não é
hora da gente aproveitar e pentear essa Lei de Segurança Nacional que está
completamente superada? Temos que dar uma boa limpada nisso — disse Aloysio,
recebendo do presidente da Comissão Cândido Vaccarezza (PT-SP), a incumbência
de apresentar um estudo sobre o assunto nas próximas reuniões.
O parecer
de Jucá da lei antiterrorismo prevê pena máxima de 30 anos de prisão, sem
progressão de penas, e, por outro lado, isenção total de pena para o envolvido
que colaborar com as investigações. Mas Miro quer aprimorar o texto, deixando
claro que o beneficio só se aplica a agente que não seja reincidente. Se já
praticou um ato de terrorismo anterior, perde o benefício.
— O mundo
todo está se preparando para lutar contra o terrorismo. Aqui no Brasil, depois
de 25 anos da Constituição, temos que preencher esse hiato —disse Jucá.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/votacao-de-lei-sobre-terrorismo-fica-para-dia-27-com-impasse-sobre-inclusao-de-movimentos-sociais-8679479#ixzz2WCeZwOcx
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Veja tb matéria do IG e UOL sobre repressão policial:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/06/14/existe-terror-em-sp-o-dia-em-que-pms-atiraram-a-aplausos-e-a-pedidos-de-nao-violencia.htm?cmpid=cfb-cotidiano-news&fb_action_types=og.recommends&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582
Relato da repórter da Folha:
Queridos,
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as manifestações de carinho e preocupação recebidas dos amigos e também de pessoas que não tive a oportunidade de conhecer. Vocês são incríveis.
Agora, o boletim médico: passei a noite no hospital em observação. A tomografia mostrou que não há fraturas nem danos neurológicos. A maior preocupação era o comprometimento do meu olho, que sofreu uma hemorragia por causa da pancada. Felizmente, meu globo ocular não aparenta nenhum dano. E agora, ao acordar, percebi a coisa mais incrível: já consigo enxergar com o olho afetado, o que não acontecia quando cheguei aqui. Fora isso, estou muito inchada e tomei alguns pontos na pálpebra.
Sobre o aconteceu: já tinha saído da zona de conflito principal --na Consolação, em que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência-- quando fui atingida. Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua. Tentei ajudar uma mulher perdida no meio do caos e coloquei ela dentro de um estacionamento. O Choque havia voltado ao caminhão que os transportava. Fui checar se tinham ido embora quando eles desceram de novo. Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho.
Cobri os dois protestos nesta semana. Não me arrependo nem um pouco de participar desta cobertura (embora minha família vá pirar com essa afirmação). Acho que o que aconteceu comigo, outros jornalistas e manifestantes, mostra que existem, sim, um lado certo e um errado nessa história. De que lado você samba?