Esperando
pelo pior... se é que é possível piorar ainda mais
Como vcs
sabem eu acompanho a situação da República Democrática do Congo pq sou
voluntárias da ONG que cuida dos gorilas das montanhas desde 2007. Entre altos
e baixos em meio a uma guerra civil que por ora tinha tréguas, mas nunca
chegava ao fim, os gorilas tiveram algum possibilidade de “respiro”... algumas
famílias tiveram bebês e os guardas florestais encontraram uma razão de viver
num país tão violento e pobre.
Esse ano a
guerra se intensificou. A sede da ONG Gorilla CD passou a receber humanos
feridos. Guardas foram mortos. Desespero se instalou por toda parte e adentrou
na floresta que abriga os gorilas. Agora a ameaça final que soa quase como um
tiro de misericórdia: a principal cidade acaba de ser tomada por rebeldes do
grupo M23... um dos mais equipados e violentos, originários de Ruanda.
O que já
estava péssimo ficou ainda pior. A cidade foi evacuada. Milhares de pessoas
estão sem ter pra onde ir... sem trabalho, sem comida, sem nada. As tropas da
ONU, ainda não se sabe por que, ficaram paralisadas diante da invasão. Parece
até que torciam pelos rebeldes. Enquanto isso rebeldes saqueiam tudo, comemoram
a conquista e o presidente do Congo se prepara pra derrota.
É um fim
anunciado, assistido de forma dolorosa... e talvez acabando com um belo sonho:
o de garantir a segurança e preservação de uma das espécies mais ameaçadas do
planeta: os grandes, mas frágeis gorilas das montanhas. Não há dúvida que
haverá outro massacre como o que levou o país a completo caos nos anos 90.
Apesar de economicamente miserável, o Congo tem riquezas difíceis de serem
mensuradas. Tem, por exemplo, um elemento fundamental para fazer nossos
celulares funcionarem. Tem tb diamantes... Tem gorilas beirando à extinção.
Mas não tem
PAZ...
Não há como
pensar numa solução para o grupo que protege os gorilas. Isolados numa área
cercada por todo tipo de homem armado, do exército e outras milícias, o que os
carentes guardas florestais poderão fazer daqui pra frente? Poucas armas, um
helicóptero, sem acesso a alimentos... e alguns gorilinhas órfãos totalmente
dependente deles na sede da ONG. Não queria dar essa notícia, mas acho que o
derradeiro final desse sonho está bem próximo. Ainda haverá gorilas das
montanhas em Uganda onde, aliás, até fazem parte de um programa turístico e
mais uns poucos em Ruanda. Mas os cerca de 270 que vivem no Congo estão numa
sangrenta e insana linha de combate.
São famílias
que se acostumaram com os humanos... que caminhavam para uma união harmoniosa
com os humanos. Um tipo de comunicação que poderia gerar conhecimentos
inimagináveis. Esses gorilas são fortes, grandes e, no entanto, absolutamente
vegetarianos. São inteligentes, tem uma linguagem complexa de sons e um
comportamento pacífico que deveria nos servir de exemplo. Eles permitiram a
aproximação do homem e agora estão prestes a morrer nas mãos dos humanos.
Não sei mais
o que dizer... Passei esses anos torcendo pelos ambientalistas locais, pelos
guardas florestais... pelos gorilas...
E, pela
primeira vez, estou sem qualquer sentimento de esperança...
Fátima ChuEcco