ISSO É PRA MIM, PRA VC... PRA TODOS NÓS.
Presenciei essa semana uma cena muito interessante e que nos leva a uma reflexão: quando alguém estende a mão na sua direção, o que vc entende? Eu estava dentro do metrô e havia um mendigo sentado no chão, bem maltrapilho, enrolado num cobertor. O metrô cheio pela manhã e todo mundo arrumadinho indo para o trabalho ou escola. De repente o mendigo, sem se levantar, estendeu a mão para um grupo de pessoas a sua direita, sem soltar nenhuma palavra. A reação unânime foi balançar a cabeça negativamente ou dizer "não tenho". Todos deduziram simultaneamente que o mendigo pedia dinheiro. Uma reação mecânica, automática da sociedade.
Então o mendigo estendeu a mão para o grupo de pessoas a sua esquerda, novamente sem se levantar e sem emitir nenhuma palavra. A reação das pessoas se repetiu com exceção de apenas uma garota que finalmente estendeu a mão para o mendigo. Ele a segurou e teve apoio para se levantar. Ou seja, tudo que ele queria era uma "mão" para o ajudar a levantar-se. Talvez estivesse fraco, machucado... qualquer coisa assim. Então ele soltou essa palavra: "obrigado". Ele pretendia descer na estação seguinte, mas se posicionou na porta errada. Então informei-o que era a outra porta que se abriria para o desembarque. De novo, educado, ele disse "obrigado".
Fica a reflexão: estamos reagindo mecanicamente a situações sem sequer prestar atenção nelas. Um pedido de ajuda para levantar do chão é confundido com um pedido de dinheiro... mas esse é só um mero exemplo. Quantas vezes, todos os dias, não agimos assim... imaginando automaticamente uma coisa quando pode ser outra totalmente diferente? A dedução atropela a reflexão. A dedução tornou-se independente da observação e dos sentimentos. As pessoas não refletem mais... elas apenas reagem numa postura de autodefesa ou, pior, indiferença.
Fátima Chuecco em uma experiência no metrô Ana Rosa.