O principal argumento contra a compra de filhotes de cães e
gatos é que já há muitos animais abandonados precisando de um lar, mas creio
que existe outro fator ainda mais crucial que é a vida que levam essas “mãezinhas”
separadas dos filhotes logo após o parto, impedidas de cuidarem deles e de
exercerem o que há de mais lindo, natural e forte na natureza delas: o instinto
maternal. Os filhotes são em geral mantidos em estufa e colocados perto delas
apenas para mamarem. Não é permitida a interação mãe/filhote e isso é, no
mínimo, angustiante.
Quem tem qualquer animal sabe o quanto os bichos são extremamente
emocionais. E para quem é mãe, imagine ser mantida num quarto com alimento, uma
cama e aguardando a hora de perder os filhos novamente. Nem estou me referindo
aos criadouros pavorosos que toda hora são denunciados. Em alguns as fêmeas são
amordaçadas, amarradas e sofrem estupro por parte dos machos. Mas estou falando
de criadouros “dentro da lei” porque, em geral, as pessoas desconhecem que há
também muito sofrimento neles.
Muito tempo atrás, quando a castração ainda era pouco
difundida, eu tinha uma amiga cuja mãe afogava no tanque os bebês de uma cachorra
da família. Foram várias crias com esse
cenário de horror. Certa vez, desesperada, a cachorrinha escondeu os filhotes
no forro da casa. Infelizmente, os bebês foram achados e mortos. Minha amiga dizia
que não conseguia impedir pq a mãe agia quando ela não estava em casa. Estou
usando esse exemplo, que me marcou “demais”, pra mostrar o quanto aquela
cachorrinha, apesar de nunca ter amamentado uma cria, tinha o desejo “latente” de
criar seus filhotes. Imaginem o desespero dela cada vez que paria e a dona da
casa vinha retirar os bebês para afogá-los.
Vale lembrar que essas cadelinhas dão cria num grande estado
de estresse, de aflição, e que isso também não é saudável para os bebês.
Essas cachorrinhas ou gatinhas são, antes de tudo, mães, com
emoções e necessidades iguais das mães de qualquer outra espécie, inclusive das
mães humanas. Talvez, antes de imaginar como são os bastidores dos criadouros,
vc tenha comprado um ou mais bichos, mas pode deixar de fazer isso e pode
esclarecer outras pessoas que querem comprar. Nenhum criadouro pode ser ético
porque separar precocemente mães e filhos não é ético... porque impedir o
contato entre mães e filhos não é ético... porque comercializar vidas não é
ético.
É muito difícil mudar a mentalidade de um criador. Se ele
assiste esse sofrimento todo e não se compadece, não conseguirá se colocar um
só minuto no lugar daqueles animais aprisionados para dar cria. Mas é possível
mudar a mentalidade de quem compra esclarecendo sobre os “bastidores”.
É como aconteceu com os circos. Dono de circo jamais admitiu que os animais sofriam, mas a verdade foi vindo à tona e muitos frequentadores deixaram de ir a esses espetáculos de dor. O mesmo tem acontecido com os rodeios.
É como aconteceu com os circos. Dono de circo jamais admitiu que os animais sofriam, mas a verdade foi vindo à tona e muitos frequentadores deixaram de ir a esses espetáculos de dor. O mesmo tem acontecido com os rodeios.
Então, se vc se sente esclarecido sobre isso, passe adiante
seu conhecimento da situação para que mais pessoas desistam de comprar
animais... de qualquer tipo. Não podemos impedir o funcionamento dos criadouros
que seguem as normas, mas podemos abrir a mente das pessoas que ainda não
conseguem imaginar como é a vida das “mãezinhas”. O argumento de que “comprar
um animal tira a chance de outro ser adotado” é legítimo também, mas não atinge
tanto as pessoas porque também poderíamos dizer as mulheres: não tenham filhos
pq há muitas crianças, no mundo todo, abandonadas e passando fome. As mulheres “querem”
ter filhos com seu sangue, seu DNA... pelo menos a maioria delas. Elas pensam:
lamento por essas crianças, mas não é minha obrigação adotá-las.... não sou
responsável por essa situação q elas enfrentam e tenho direito de ter um filho
meu.
Seguindo a mesma linha de pensamento e ação, muitas pessoas
querem ter filhotes de raça, perfeitos e higienizados pq elas simplesmente
pensam: não é minha culpa ter tanto cachorro nas ruas e nem é minha obrigação
tirá-los de lá, além disso, tenho direito de ter um bicho de raça.
Direito tem, mas é preciso avaliar o que essa “aquisição” acarreta.
Por isso é tão importante, cada vez mais, trazer à luz a
miserável vida que levam as “mãezinhas” dos criadouros. A pessoa pode nunca ter
abandonado um animal na rua, mas ao comprar um animal não escapa da
responsabilidade de estar contribuindo para o sofrimento dos animais mantidos
apenas para darem cria e, como disse no início, sem um lar, sem família, sem
amor, passando a vida dentro de jaulas (que muitos amenizam chamando de baias)
e separados bruscamente dos filhotes... Direito tem, mas é preciso avaliar o que essa “aquisição” acarreta.