A mistura
entre teatro e história é o menu oferecido pela “Casa Amarela”, no bairro do
Ipiranga (SP), que pertenceu à poetisa, musicista, atriz, cantora, tradutora e
diretora de teatro Mariajosé de Carvalho (1918 – 1995) e esposa do maestro
Diogo Pacheco, também falecido. Mariajosé era uma promotora de saraus em sua
própria casa que reunia boa parte dos intelectuais do Movimento Modernista e
artistas descendentes desse período. Ela deixou seu imóvel, uma maravilhosa
casa de 1927, para o governo do Estado para que fosse usada em prol da Cultura.
No próximo
final de semana, dias 3 e 4, será a última oportunidade de assistir gratuitamente
“A inocência do que eu (não) sei” da Companhia de Teatro Heliópolis que está
completando 15 anos e ocupa o espaço com atividades artísticas abertas ao
público. A peça é encenada num palco nos fundos da casa onde já existiu uma
minifloresta, hoje transformada num belo jardim, porém sem o benefício
ambiental e mesmo patrimonial (já que devia ter árvores muito antigas) do “jardim
selvagem” que era desejo da artista que fosse preservado.
Mas a
atração começa antes da encenação. Basta visitar o andar térreo da casa e
reparar nas portas, janelas, piso e num curioso cômodo no qual se entra por uma
escadinha e uma passagem pequena com “meia porta”. Apenas nessa parte é
possível a visitação, mas já faz os amantes de história e cultura se sentirem
recompensados. É possível ainda ver do lado de fora o recinto onde acontecia o
Cabaré do Gato, também chamado de Sarau do Gato devido a presença de muitos
gatos na casa – acredita-se que em torno de 20 ou mais, cujo destino ficou
incerto após a internação seguida de morte da artista.
No imóvel,
após a morte do maestro, só restaram Mariajosé e seus gatos. Sem herdeiros e
com trâmites judiciais para liberação da casa para uso público pela Secretaria
de Cultura do Estado, o imóvel ficou fechado por 20 anos até virar sede do
grupo teatral nascido na Comunidade Heliópolis.
Inclusive, na
fachada da casa estão representadas as paixões de Mariajosé. Na pintura há oito
gatos pretos, um jardim e um maestro. A “Inocência do que eu (não) sei”, tem
direção de Miguel Rocha, fundador da Cia de Teatro Heliópolis e a participação
tocante de violoncelo (por Marcos mota e Fábio Machado), piano (William Paiva e
Caio Madeira) e guitarra/sonoplastia (Giovani Liberato). Com isso, a trilha
sonora embala ricamente o texto encenado por Dalma Régia, David Guimarães,Donizete
e Bomfim Klaviany Costa.
A peça
questiona a “educação”, os caminhos da aprendizagem e “o saber” que pode estar
presente em pessoas que nunca frequentaram uma escola e, sutilmente, aborda
também a “supremacia branca” que reina desde as mais antigas histórias da
humanidade como a Bíblia até os livros de contos de fadas onde não há princesas
e nem heróis negros, e segue ditando costumes e padrões de beleza. Há momentos
tensos, especialmente nas cenas finais, onde se percebe bem o talento do grupo
e onde a música exerce um papel fundamental.
Os ingressos
devem ser retirados com uma hora de antecedência. Sábado a peça começa às 20h e
no domingo às 19h.
Rua Silva
Bueno, 1533 Ipiranga – Fone 2060-0318
Para saber mais sobre a Companhia de Teatro
Heliópolis www.ciadeteatroheliopolis.com.br