segunda-feira, 28 de setembro de 2015

TEATRO E HISTÓRIA DE GRAÇA EM MARAVILHOSO CASARÃO ANTIGO



A mistura entre teatro e história é o menu oferecido pela “Casa Amarela”, no bairro do Ipiranga (SP), que pertenceu à poetisa, musicista, atriz, cantora, tradutora e diretora de teatro Mariajosé de Carvalho (1918 – 1995) e esposa do maestro Diogo Pacheco, também falecido. Mariajosé era uma promotora de saraus em sua própria casa que reunia boa parte dos intelectuais do Movimento Modernista e artistas descendentes desse período. Ela deixou seu imóvel, uma maravilhosa casa de 1927, para o governo do Estado para que fosse usada em prol da Cultura.
 
No próximo final de semana, dias 3 e 4, será a última oportunidade de assistir gratuitamente “A inocência do que eu (não) sei” da Companhia de Teatro Heliópolis que está completando 15 anos e ocupa o espaço com atividades artísticas abertas ao público. A peça é encenada num palco nos fundos da casa onde já existiu uma minifloresta, hoje transformada num belo jardim, porém sem o benefício ambiental e mesmo patrimonial (já que devia ter árvores muito antigas) do “jardim selvagem” que era desejo da artista que fosse preservado.


Mas a atração começa antes da encenação. Basta visitar o andar térreo da casa e reparar nas portas, janelas, piso e num curioso cômodo no qual se entra por uma escadinha e uma passagem pequena com “meia porta”. Apenas nessa parte é possível a visitação, mas já faz os amantes de história e cultura se sentirem recompensados. É possível ainda ver do lado de fora o recinto onde acontecia o Cabaré do Gato, também chamado de Sarau do Gato devido a presença de muitos gatos na casa – acredita-se que em torno de 20 ou mais, cujo destino ficou incerto após a internação seguida de morte da artista.

No imóvel, após a morte do maestro, só restaram Mariajosé e seus gatos. Sem herdeiros e com trâmites judiciais para liberação da casa para uso público pela Secretaria de Cultura do Estado, o imóvel ficou fechado por 20 anos até virar sede do grupo teatral nascido na Comunidade Heliópolis.
 
Inclusive, na fachada da casa estão representadas as paixões de Mariajosé. Na pintura há oito gatos pretos, um jardim e um maestro. A “Inocência do que eu (não) sei”, tem direção de Miguel Rocha, fundador da Cia de Teatro Heliópolis e a participação tocante de violoncelo (por Marcos mota e Fábio Machado), piano (William Paiva e Caio Madeira) e guitarra/sonoplastia (Giovani Liberato). Com isso, a trilha sonora embala ricamente o texto encenado por Dalma Régia, David Guimarães,Donizete e Bomfim Klaviany Costa.

 
A peça questiona a “educação”, os caminhos da aprendizagem e “o saber” que pode estar presente em pessoas que nunca frequentaram uma escola e, sutilmente, aborda também a “supremacia branca” que reina desde as mais antigas histórias da humanidade como a Bíblia até os livros de contos de fadas onde não há princesas e nem heróis negros, e segue ditando costumes e padrões de beleza. Há momentos tensos, especialmente nas cenas finais, onde se percebe bem o talento do grupo e onde a música exerce um papel fundamental.

Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. Sábado a peça começa às 20h e no domingo às 19h.

Rua Silva Bueno, 1533 Ipiranga – Fone 2060-0318

Para conhecer mais sobre a artista Mariajosé de Carvalho http://www.operaprima.art.br/revista/?p=148
Para saber mais sobre a Companhia de Teatro Heliópolis www.ciadeteatroheliopolis.com.br

 

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