Esse texto integra o E-Book que reunirá minhas experiências na área jornalística e que podem ser úteis para quem está no começo ou decorrer de qualquer carreira.
Quando
trabalhei no SBT Repórter, na época em que a jornalista Marília Gabriela
apresentava o programa, tive uma lição de vida, que nunca mais esqueci. Entrei
como produtora, mas dois meses depois, o diretor, muito satisfeito com meu
desempenho e, especialmente com meus textos, me promoveu a editora.
Era uma
função absolutamente nova para mim, pois nunca havia trabalhado em TV e muito
menos editando. Eu era nova e fiquei envaidecida, afinal, além de uma posição
mais elevada, teria o dobro de salário. Essa promoção foi também acompanhada de
elogios do diretor do programa que dizia na frente da equipe e, até da Marília
Gabriela, que eu era muito talentosa e inteligente.
Mas o “EGO”
pode se tornar um grande inimigo de quem está no início ou no decorrer da carreira.
O ego corrói um CORAÇÃO BOM. Então o ego cresceu em mim naquela circunstância
e, ao invés de enxergar a maravilhosa oportunidade que estava tendo de crescer
ao lado de profissionais mais experientes, caí na besteira de achar que era
autossuficiente, que já sabia muito e nada ou pouco tinha a aprender.
Foto S Hermann & F. Richter/Pixabay
Assim, de
peito estufado, entrei nas ilhas de edição muito entusiasmada com meu novo
posto de trabalho. Mas não entrei sozinha. Um editor bem antigo do SBT, que
devia ter pouco mais de 50 anos de idade, me acompanhava dando instruções sobre
os melhores momentos de corte, fusão e outras ações técnicas a serem executadas
nos vídeos.
Eu o
ouvia, mas só de vez em quando. Na maior parte do tempo retrucava tudo que ele me dizia e
teimava que meu jeito de fazer estava mais correto, que ficaria melhor. Isso
criou um desgaste. O editor deve ter se cansado de ouvir uma novata na área
achar que já sabia tudo e podia decidir sobre tudo. Então ele relatou meu
comportamento inadequado ao diretor.
E agora vem a melhor parte – que facilmente
poderia ter sido a pior parte se eu finalmente não abrisse meus olhos e meus
ouvidos.
Foto Pixabay
O diretor me
chamou na sala dele para dizer que eu devia respeitar o editor veterano por
três motivos: pelo conhecimento dele,
pela experiência dele
e, se essas duas razões não me parecessem suficientes, que eu deveria respeitar
os seus cabelos brancos. E
não foi um “conselho”. A questão era: eu caía “na real” e enxergava meu papel
ou... caía fora do programa.
Felizmente, meu
coração que começava a ser corroído pelo ego, absorveu letra por letra daquele “puxão
de orelha”.
Fui capaz de
me fazer a seguinte pergunta: quem
era eu na fila do pão? – como se costuma dizer.
Bem...era “apenas”
uma jornalista em início de carreira e sem qualquer experiência em TV – podia até
ser talentosa – mas uma aprendiz que devia estar muito agradecida pela
grande chance de ter como mestre um editor experiente e, diga-se de passagem,
bem “paciente” comigo.
Foto Free-stock/Pixabay
Aquele novo
cargo era na verdade uma “escola” de altíssimo nível para mim e não um tablado
para eu sapatear que estava certa o tempo todo.
Além disso,
como disse o editor, tinha a questão do respeito aos mais velhos e experientes.
Nesse dia eu
tive dois e não “um” motivo para agradecer. O primeiro foi essa grande
oportunidade de me tornar editora do programa e, o segundo motivo foi reconhecer
meu erro de uma maneira totalmente serena e resignada: “ele” era editor e eu ainda apenas alguém tentando ser.
Hoje, pela minha
idade e trajetória profissional, estou na posição do editor veterano e, de vez
em quando, me deparo com aprendizes com o mesmo “ar” insolente com o qual quase
coloquei tudo a perder lá no passado.
Deve ser
natural da idade ou da falta de experiência - ou ainda por vezes da falta de competência
– afrontar quem sabe mais que a gente e que está disposto a nos ajudar a subir
mais um degrau na escada do conhecimento.
Foto Free-photos/Pixabay
Claro que até
os mais experientes erram - já que ninguém é perfeito - e eles também aprendem, já que morremos
aprendendo coisas novas, mas ainda assim não é um simples hiato que separa um
ancião de um calouro. É um travessão gigante que merece ser respeitado. Sorte
daquele que enxerga isso e consegue tirar o máximo proveito de quem tem muito a
ensinar.
Fátima ChuEcco