O gatinho Djoko levava uma vida livre e tranquila num condomínio do Jardim Botânico, em Brasília. Ele até acompanhava sua tutora Tâmara Monteiro, dog walker, nos passeios com cachorros da vizinhança. Estava sempre à vista, entre sua casa e casas próximas, até que um dia sumiu sem deixar rastro.
A angústia por um reencontro durou mais de três meses ou, para ser mais exata, 95 longos dias. Tâmara e o marido Guilherme fizeram de tudo para encontrar Djoko e naturalmente navegaram por inúmeras hipóteses que torturam a mente de todo mundo que perde um gatinho: poderia ter sido atropelado, atacado por um cachorro, ficado acidentalmente preso num imóvel, dentre outras opções, quase sempre devastadoras de corações de pais de pets.
Djoko usava, na ocasião, uma coleira verde com o contato de seus tutores. Portanto, ter sido levado embora propositalmente por alguém não era algo muito provável.
Porém, logo que Tâmara me procurou para orientá-la nas buscas, um dado que me chamou a atenção foi o condomínio estar repleto de obras, com vários caminhões descarregando material de construção diariamente. Gato AMA obra! Ama mexer na areia, ama cheiro de cimento, ama andar por entre tijolos e outros materiais comuns nas obras. E gato gosta também de se enfiar em motor de caminhões pequenos ou grandes.
O que pode explicar Djoko ter ido parar na Vila Planalto, distante 14 km do Jardim Botânico, é justamente ele ter entrado em algum veículo que transporta material de construção, mas Tâmara, desde o início das nossas conversas, também desconfiou que ele podia ter sido levado por algum carro estacionado numa casa que estava em festa, exatamente no dia em que ele sumiu.
Djoko é uma gatinho manso, curioso e pode ter adentrado em algum veículo sem ser percebido. De repente um carro que estava com a porta aberta por alguma razão e que Djoko resolveu explorar, talvez atraído por algum cheiro. Pode ter ficado abaixado na parte detrás sem que as pessoas o notassem.
CERTO é que um gato não anda 14 km longe de casa por livre e espontânea vontade. São os cães que se afastam por quilômetros quando escapam. E Djoko, na verdade, não era um gato "perdido". Ele conhecia muito bem o condomínio. Era evidente que alguma coisa o impediu de voltar para casa. Por isso foi necessário vasculhar todos os arredores - missão que Tâmara desempenhou com afinco adentrando obras, casas vazias, terrenos... tudo tudo! Infelizmente sem sinal de Djoko.
Uma busca de 95 dias é bem exaustiva, o que levou Tâmara e Guilherme a vários momentos de desânimo. Por outro lado, nunca deixaram de ter esperança e, acima de tudo, apostaram na INTUIÇÃO. A tutora sempre me disse que sentia que seu gatinho estava vivo. Chegou a sonhar com ele vivendo em outro condomínio. E contou:
"Guilherme também sempre teve a intuição de que a coleira do Djoko não cairia e que alguém iria nos ligar".
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Djoko ganhou uma tag |
Djoko foi visto por uma mulher num terreno onde vários gatos eram alimentados por uma protetora de animais. "Ela sempre passava por esse local que é uma espécie de chácara na frente de um condomínio chique. Alguns gatos são abandonados ali e uma conhecida dela os alimenta. Então notou um gato com coleira verde e logo pensou que podia se tratar de um gatinho perdido. Ela se aproximou do Djoko, conseguiu ver nosso contato na coleira dele e nos ligou indicando o local".
Vale ressaltar que a conexão mental com um gatinho desaparecido ajuda muito. Ao acreditar que Djoko estava vivo e que ainda podia revê-lo, Tâmara foi fortalecendo uma comunicação sutil que pode ter construído uma situação bastante improvável como essa: encontrar o gato três meses depois, bem longe de casa e por intermédio de uma pessoa que nem sequer tinha visto algum post do gato. A intuição da Tâmara mobilizou a intuição da mulher que notou Djoko entre outros gatos num efeito dominó.
Além disso, Tâmara pediu muita ajuda para São Francisco de Assis, de quem é devota. A fé também guiou seus passos.
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Djoko de volta para casa e cercado de cuidados |
De volta para casa, Djoko ganhou um monitoramento completo. O casal cercou o terreno da casa e, além disso, colocou na coleira do gatinho uma tag que funciona via celular e aponta por onde o gatinho está andando caso consiga sair e se afastar. Hoje ele vive numa Fortaleza, mas é uma fortaleza de amor cercada de cuidados.
Fátima ChuEcco, jornalista, escritora e consultora da @BuscaCats