HOJE É O DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL. A data de 18 de
abril foi escolhida por ser nascimento de Monteiro Lobato, famoso pela criação
do Sítio do Pica-Pau Amarelo, considerado um dos maiores clássicos da
literatura brasileira. Lobato é autor também de “Caçadas de Pedrinho” –
livro que passou a gerar muita polêmica nos últimos anos devido ao tratamento dado
aos personagens negros. Em 2014 o
Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou um parecer sugerindo a exclusão do
livro Caçadas de Pedrinho das escolas públicas - sob a alegação de que a obra trazia
conteúdo discriminatório.
Veja alguns trechos:
Pg 26: “Tia Anastácia tem
carne preta”
Pg 39: “Tia Anastácia...
trepou que nem uma macaca de carvão”
Pg 41: “E você, pretura?” –
Emília pergunta à Tia Anastácia.
O livro é de 1933, ou seja,
45 anos após a abolição da escravatura no Brasil. Algumas pessoas defendem
Lobato dizendo que ele quis destacar em suas histórias o tratamento dado aos negros,
mas estudiosos argumentam que os tratamentos mostrados nos livros podem
reforçar o preconceito nas crianças. Eu, particularmente, acho bem mais
provável a segunda opinião. Afinal, é na infância que formamos muitos de nossos
conceitos. É inútil tentar combater o racismo em adultos se eles crescem se
encantando com histórias onde o negro nunca é herói, príncipe ou princesa. Daí
um adulto chama um negro de “macaco” na rua e isso é crime de racismo. E é
mesmo, mas foi plantado lá trás, nas aparentemente “inocentes” histórias
infantis como as de Monteiro Lobato.
Leia mais sobre essa análise das Caçadas de Pedrinho em http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/representacao-do-negro-em-cacadas-de-pedrinho-de-monteiro-lobato
A figura do negro em
Monteiro Lobato. Marisa Lajolo
http://www.unicamp.br/iel/monteirolobato/outros/lobatonegros.pdf
http://www.unicamp.br/iel/monteirolobato/outros/lobatonegros.pdf
Cartilha Preconceito não é
legal: a intolerância e a lei http://www.faac.unesp.br/extensao/convdiversidade/cartilha.pdf
CRIANÇAS MATANDO ANIMAIS SELVAGENS
Mas há outro aspecto a observar nesse livro tão consagrado e
até hoje bastante indicado para crianças: a caça aos animais selvagens. Pedrinho
arma uma cilada para uma onça-pintada (animal cada vez mais raro em nossas
matas) e ela é morta de forma violenta pelas crianças. Isso faz com que outros
animais se rebelem contra a turma de Pedrinho, mas eles conseguem escapar e
ainda aprisionam um rinoceronte no sítio alegando amizade com o bicho que
fugira de um zoológico. OU seja: TUDO ERRADO!
A história motiva as crianças a temerem animais selvagens e
tratarem-nos como inimigos. Motiva a CAÇA! Motiva o desrespeito à fauna! Dá para
defender a obra nesse quesito?
Ághata com figurino da Chapeuzinho Vermelho
Pensando em todos esses aspectos, especialmente aos ligados
ao negro, é que estou produzindo uma série de histórias infantis baseadas em obras
clássicas onde o negro grande destaque na figura de uma gatinha preta, a Ághata
Borralheira. Ela ocupa o lugar de personagens principais que sempre foram
retratados como brancos, procurando inserir o negro no universo infantil e
também ajudando no combate ao preconceito contra animais pretos.
Enquanto as histórias estão sendo produzidas, ricamente ilustradas com fotos da
Ághata verdadeira (porque de fato ela existe e é uma de minhas três gatinhas),
criei uma página no facebook com muitas fotos e vídeos divertidos com a Ághata
para começar a divulgação desse trabalho. Acesse https://www.facebook.com/aghataborralheirabook/
Curta a página e ajude a espalhar essa ideia! Sugira a grupos ou
pessoas que lutam contra o racismo. O respeito deve ser cultivado na infância
para que não se tenha que ficar punindo ações racistas em adultos. E já está mais do que na hora da gente mudar esse cenário! Ajude a plantar essa semente!
Texto: Fátima ChuEcco