sexta-feira, 5 de setembro de 2014

UM CINEASTA E FOTÓGRAFO ÍMPAR EM SÃO SEBASTIÃO




 

Alguns talentos a gente só conhece por acaso. Que tal conhecer a vida de Edivaldo Nascimento, cineasta pioneiro em uma cidade que nem cinema tinha 40 anos atrás. Diretor e ator de faroestes caiçaras! Nunca ouviu falar desse gênero? Vai ver... Edivaldo até isso inventou. Leia mais e veja fotos de Edivaldo. Eu vi de perto. Amei. Agora estou louca para ver seus filmes.

Quando a gente visita uma região de praias, como São Sebastião, no litoral norte de SP, espera desfrutar da natureza, adquirir artesanato local, fotografar lindas paisagens, enfim, descansar e se divertir. Raras vezes conhecemos uma pessoa que preserva a história do lugar e, muito menos, que produz cinema e acervo fotográfico. Por isso, em minhas últimas visitas ao centro histórico de São Sebastião, considero que encontrei uma dessas “pérolas”, ou seja, conheci Edivaldo Nascimento no Museu de Arte Sacra e havia tanta história (e atitude cultural) dentro de uma só pessoa que fiquei imediatamente impressionada.
 
Este mês, o último filme de Nascimento, “Tesouro Sangrento”, filmado em São Sebastião, completa 35 anos. Mas ele não foi apenas diretor do “faroeste caiçara”. Era também ator, maquiador, fazia roteiro e montava o filme que, na época, era “mudo”, em Super 8 (rolo) e p&b. E esse nem foi o primeiro filme dele. Dez anos antes, quando ele nem tinha 18 anos ainda, já fazia filmes como “O Mexicano” (de 1968) e  “A Volta do Mexicano”. “Só tínhamos atores homens.  Éramos taxados de loucos. As mulheres tinham medo da gente”.


Para produzir e montar o filme era muito trabalhoso. Edivaldo dependia de um morador de São Sebastião que dispunha de algum equipamento. “Certa ocasião eu e os demais atores fizemos uma vaquinha para comprar todo o material necessário para nossas produções. Mas o dono da conta bancária sumiu com o dinheiro”. Apesar dos obstáculos, Edivaldo fazia de tudo para manter seu talento vivo: vendia areia e siri para ter algum dinheiro. Numa cidade pequena que nem tinha cinema e contava com apenas dez ruas, ele era o pioneiro da sétima arte. Chegou a cria SESSÃO MISÉRIA onde as pessoas pagavam "Um CRUZEIRO" para ver os filmes. É OU NÃO É UMA PÉROLA?


“Conseguíamos ter cavalos e arma de fogo de verdade. Certa vez a polícia foi atrás de nós enquanto filmávamos num morro porque houve denúncia que tinha gente se matando por lá. Felizmente, a filmagem terminou antes da chegada da polícia. Ufa! Foi um alívio porque deu tempo da gente escapar, igual verdadeiros foras da lei”, conta.

Exposição de fotos até 15 de Setembro
 
Sem recursos e incentivos, Edivaldo abandonou o cinema (sim... que pena!), mas passou a resgatar fotografias que contavam a história de São Sebastião e montou um valioso acervo. Também passou a fazer ensaios fotográficos e atualmente tem uma fotonovela sua exposta no Departamento de Patrimônio Histórico, na Rua da Praia, no centro histórico de São Sebastião. Em cartaz até 15 de setembro, as 20 imagens em p&b retratam a “A Lenda do Pontal da Cruz”... e também ilustram esse artigo.

“Há várias versões e eu retratei, com a ajuda de atores, a que ouvi dos antigos moradores. Que uma moça do Pontal da Cruz ficou dividida entre dois amores, um rapaz da Ilha Bela e outro de São Paulo. Sabendo de sua indecisão, o namorado de Ilha Bela jogou-se ao mar e morreu afogado. Ela então morreu de tristeza. O corpo do moço foi encontrado sobre uma rocha onde misteriosamente duas árvores cresceram juntas”, relata.


A ideia original de Edivaldo era fazer um filme sobre essa lenda, mas esbarrando mais uma vez na falta de recursos, resolveu produzir a fotonovela. Contratou atores, buscou o figurino da época (aliás, muito bem composto) e montou a sequência da história. Lindas imagens (eu vi!!!!) com legendas de uma bela e inusitada história de amor, afinal, duas árvores nascendo em uma pedra? Podemos dizer que Edivaldo é uma “pérola” (ainda desconhecida do cinema nacional) lapidando outra (essa lenda que talvez nessa seja lenda). Na praia do Pontal, uma cruz foi colocada sobre a misteriosa rocha e virou ponto turístico – um dos vários pontos baseados em lendas que Edivaldo tem na ponta da língua e no seu coração de cineasta.



 

 

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