As pessoas podem ficar deprimidas por várias razões, de perda de ente querido a problemas de saúde ou financeiros e até mesmo chute na bunda. Tem depressão nostálgica que é a saudade de um passado feliz, saudade daquilo que você não tem mais ou da pessoa que você não consegue mais ser. E para cada um a própria dor é imensa, maior que a dos outros.
O estado de depressão é como areia movediça. Você se sente imobilizado e afundando. E quanto mais se mexe para sair da situação, mais afunda. O estado de depressão é sensação intensa de impotência e invisibilidade ou pior, rejeição. Uma vez li que o fundo do poço não é o fim porque sempre dá pra descer mais um pouco. Isso é muito real.
Mas a depressão por não conseguir uma renda própria para se sustentar talvez seja a mais profunda, especialmente se você vive numa cidade que é uma das maiores do mundo, cheia de oportunidades a cada metro quadrado.
Muitos anos atrás, trabalhando como editora do SBT Repórter, fiz um programa sobre desemprego. Nunca esqueci o rosto de um dos entrevistados que chorava por não ter aquilo que "dizem" dignificar o homem: seu trabalho. É uma dor complexa porque a pessoa vive cercada por milhares de prédios comerciais e empresas sem conseguir atuar em nenhuma delas.
E quando por ventura aparece algum trabalho, muitas vezes temporário, as dívidas já são tantas que os ganhos não cobrem mais os gastos e ainda falta. Aquele homem do programa do SBT se sentia sem dignidade, sem crédito e era até acusado de mentiroso ou preguiçoso porque para a maioria das pessoas é mesmo bem difícil acreditar que numa cidade tão grande, com tanta gente e trabalho, nenhuma porta se abre.
Mas a verdade é que as vezes o trabalho simplesmente não vinga não importa o que você faça, não importa quantas coisas você saiba fazer. Chega uma hora que você percebe que se mexer não muda nada na sua condição de areia movediça. Tem que esperar um socorro, um milagre.
A depressão também pode fazer a pessoa se sentir como uma casa abandonada cheia de vidraças quebradas. Ela se mistura na paisagem até não ser mais percebida. Encrustada num terreno infértil, não pode sair dalí e nem se reconstruir onde está. É apenas uma velha casa desmoronando aos poucos. Totalmente impotente a sua condição.
Quando entro em depressão procuro lembrar, por exemplo, das pessoas que vivem em Gaza perdendo casas, filhos, maridos, feridas, doentes e cujo objetivo nem de longe é emprego, mas sobreviver. Pensar nessas pessoas, crianças e animais nos campos em guerra ajuda a enxergar que nossa situação pode ser ruim, mas não é extrema. E que embora a sensação de impotência já faça parte de nossas entranhas, ainda deve existir uma solução, nem que seja um milagre.
Texto: Fátima ChuEcco, jornalista e escritora. Foto AI

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