Joana ganhou marcapasso e passa bem (SP)
Vejam
que coisa bacana de tomar conhecimento e espalhar, especialmente para
professores e alunos de Veterinária já que a vivissecção é uma das piores
coisas que fazemos contra os animais. A cachorrinha Joana recebeu no dia 3
deste mês o implante de um aparelho de marcapasso e passa bem, mas ela de fato “precisava”
do procedimento. A cirurgia, realizada por meio de uma parceria entre a
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) e a Faculdade de Medicina
(FM) da Unesp de Botucatu, beneficiou Joana e os estudantes que acompanharam
tudo... e ainda pode beneficiar mais estudantes caso a operação tenha sido
gravada.
Venho
constantemente abordando o assunto de cobaias em faculdades de medicina
veterinária que, além de ser uma crueldade sem tamanho, não contribui para o
ensino e nem para o avanço de estudos sobre tratamentos. O mais ético,
inteligente e eficiente é os estudantes tratarem animais que de fato estão
doentes. Há centenas de cães e gatos morrendo sem socorro porque seus tutores
não podem arcar com clínicas veterinárias. Por que ao invés de manter um
biotério (que tem alto custo) e causar dor e sequelas em animais saudáveis,
muitas vezes bem jovens (com três e quatro meses de idade), esses alunos não
aprendem com casos “reais”?
No
final de 2015 as redes sociais se agitaram com o caso de 14 cães retirados das
ruas para servirem de cobaias na Universidade Federal de Viçosa (MG) – situação
que acompanhei de perto entrevistando especialistas para ajudar a provar a
brutalidade a que aqueles animais estavam sendo submetidos. Depois de muita luta
de ativistas locais e de SP os 14 cães foram liberados para pessoas que os
quisessem adotar por ordem judicial. Apesar da vitória dos ativistas (e do bom
senso), os cães deixaram a faculdade cheios de graves sequelas porque foram
cortados ligamentos importantes de suas pernas (leia mais em http://www.anda.jor.br/08/12/2015/estao-caes-resgatados-universidade-vicosa
).
Gabriela adotou Alôncio, um dos 14 cães que foram usados como cobaias na UFV
A veterinária
que conduziu a pesquisa já é veterana nesse tipo de estudo arcaico e ainda
recebe ajuda financeira de Órgãos de pesquisa para isso (leia uma das minhas
matérias sobre o assunto que teve quase 30 mil curtidas em http://www.anda.jor.br/03/12/2015/juiz-ordena-soltura-imediata-caes-universidade-vicosa
). Mas, lamentavelmente, o que acontece em Viçosa se repete em muitas
faculdades brasileiras e do Exterior. Solução existe. Já está mais do que
provada a eficiência de técnicas que não utilizam cobaias e, como dito acima,
seria muito mais produtivo aprender salvando vidas. Afinal... não é esse o
objetivo de todo médico... salvar vidas?
Francisco adotou o cão Doug, retirado das ruas para servis de cobaia na UFV
Caso
Joana
Muita
gente se envolveu... vale a pena conhecer esse caso! Reparem que o material
publicado pela Unesp (que vcs poderão ler abaixo) cita o nome de todos os
envolvidos, professores e alunos, valorizando a atitude ética e profissional de
todos. Isso sim é ensino de primeira qualidade! Repassem a universidades de
medicina veterinária para motivar uma mudança de posturas arcaicas causadoras
de extremo sofrimento a animais saudáveis.
Segundo
informações da Unesp, a cachorra Joana foi conduzida ao Hospital Veterinário da
Unesp com desmaios muito frequentes e convulsões. Foi examinada pela residente
Bárbara Keiko Kichise e pela equipe do Serviço de Cardiologia Veterinária da
FMVZ, orientada pela professora Maria Lucia Gomes Lourenço. “O
eletrocardiograma da paciente apontou alterações compatíveis com uma
enfermidade denominada Síndrome do Nodo Doente, muito comum em fêmeas da raça
Schnauzer”, diz o informativo da Unesp.
Um
monitoramento de 24 horas dos batimentos cardíacos do animal confirmou o
diagnóstico. “Ela apresentou alterações significativas, com pausas longas nos
batimentos que provocavam os desmaios. Chegamos a registrar pausas de 8
segundos. Pela gravidade do caso, sabíamos que teríamos resultados parciais com
os medicamentos. O que realmente daria sobrevida a ela seria o implante do
marcapasso”, explica a pós-graduanda Amanda Sarita Cruz Aleixo.
A
equipe do Serviço de Cardiologia Veterinária da FMVZ se mobilizou para buscar viabilizar
a implantação de um marcapasso na paciente. O professor Rubens Ramos de
Andrade, da Faculdade de Medicina, foi contatado e se dispôs a colaborar no
caso. Além de ceder o marcapasso, o professor Rubens, com apoio dos residentes
em Medicina André Garzesi e Leonardo Garcia e acompanhamento da equipe da FMVZ,
realizou a cirurgia de implantação.
A
anestesia foi feita pela equipe do Serviço de Anestesiologia Veterinária da
FMVZ, com a residente Carolina Hagy Girotto, a médica veterinária Natache
Garofalo, a pós-graduanda Mariana Werneck, sob a supervisão do professor
Francisco José Teixeira Neto. Uma medicação importante utilizada no
procedimento foi cedida pela professora Patrícia Fidelis de Oliveira, da
Faculdade de Medicina.
Antes
da cirurgia a proprietária foi alertada sobre a gravidade do caso e a
possibilidade de óbito do animal. “Desde o início, ela assumiu os riscos e
autorizou o procedimento. Tudo foi feito com muita cautela, com todos os
materiais, medicamentos e equipamentos, inclusive os necessários para possíveis
intervenções de emergência”, ressalta a pós-graduanda Angélica Affonso.
O
procedimento foi muito bem-sucedido. Os membros do Serviço de Cardiologia
Veterinária da FMVZ monitoraram a paciente intensivamente nas primeiras 24
horas. Por aproximadamente dois meses o animal será submetido a exames semanais
para acompanhar seu estado. A evolução do caso tem agradado a equipe. “Os
desmaios cessaram completamente e o animal apresentou uma melhora significativa
até o momento”, conta Amanda.
Rosa
Maria da Silva, proprietária do animal, atesta o sucesso do procedimento. “Eu
achei que minha cachorrinha não ia sobreviver. Mas eles correram com ela,
fizeram de tudo, conseguiram o marcapasso. Desde a cirurgia ela não teve nenhum
desmaio. Está brincando, se alimentando. Não tenho como agradecer as meninas
que cuidaram dela e a professora Malu”.
Marcapasso
Segundo a professora Maria Lucia, a primeira implantação de um marcapasso em
cão aconteceu em 1967. Utilizando a técnica de implantação transvenosa, a mesma
a que Joana foi submetida, o primeiro procedimento foi realizado em 1976. “A
técnica já é preconizada, mas não é feita com tanta frequência no Brasil,
inclusive pelo alto custo do aparelho e de todo o procedimento”.
DEPOIMENTO
IMPORTANTE
Além
da importância da parceria multidiscilplinar entre setores da FMVZ e da FM, a
docente salientou os benefícios para o ensino. “Como não é uma cirurgia feita
rotineiramente, foi muito importante para que os residentes e pós-graduandos de
várias áreas pudessem acompanhar esse procedimento, além de possibilitar a
interação com a equipe da Faculdade de Medicina. Agora, temos um exemplo para
mostrar sobre colocação de marcapasso em cães. Isso gera um grande interesse
nos alunos. Além de atender o animal,
todo o processo foi muito produtivo e estimulante em termos didáticos”.