Uma cobra de estimação dentro de um recipiente de vidro devora um hamster vivo. A cena é assistida por Elize e seu marido, Marcos Matsunaga que, tempos depois, seria morto e esquartejado por ela. Elize ri da aflição do ratinho e também no momento em que ele é abocanhado.
A cena indigesta está no terceiro capítulo da Série "Elize Matsunaga" que estreiou na Netflix. Esse capítulo, aliás, mesmo sem ser de forma intencional, mostra o "link" que pode existir entre o prazer de matar animais e outros crimes, contra pessoas por exemplo. Isso porque é nesse capítulo que são mostradas dezenas de fotos do casal Matsunaga posando com animais caçados.
Elize comenta que cresceu vendo galinhas e porcos sendo mortos. Diz que para ela isso é normal e fala sobre como atirou num veadinho: "Eu gosto de andar na mata, ouvir o barulho do animal sem ainda saber que bicho pode ser. Eu queria aquele veadinho como troféu. Quando consegui mirar na cabeça dele a uma certa distância, vi que ele olhou para mim. Ele sabia que eu estava lá".
O casal abria os animais que caçavam, tiravam a pele, vísceras... e suas cabeças eram penduradas em paredes. Elize inclusive conta como isso é feito.
O fim dessa história todos conhecem. Marcos Matsunaga foi morto com um tiro e, segundo a promotoria, sem chance de defesa... exatamente como matava inúmeros animais... e esquartejado... como também fazia com sua caça.
Elize perdeu o direito de ver a filha... exatamente como fazia quando arrancava a vida de filhotes ou de animais que estavam cuidando de suas crias.
Mas esse não é um fim "tradicional". Foi um acontecimento peculiar em que um casal terminou exatamente como também terminavam as vítimas que faziam durante as caçadas.
No entanto... esse caso pode ilustrar a hipótese de haver um "link" semelhante ao que já foi constatado sobre homens que são violentos com animais e, consequentemente, também com suas esposas e filhos - o link da violência doméstica associada à violência contra animais.
Vaja o trailer:
É comum os caçadores posarem para fotos diante dos animais mortos com um largo sorriso nos lábios. Para eles é um troféu. Sentem-se vencedores mesmo não tendo havido qualquer luta, apenas um animal na mira de uma arma de fogo. Mesmo sem qualquer glória nesse feito covarde, já que o animal fica em brutal desvantagem, os caçadores posam nas fotos como homens e mulheres “valentes”.
Não importa se o alvo é um leão ou um rinoceronte pesando toneladas. Um rifle é uma arma rápida e letal transformando qualquer fera num animal desprotegido.
A atividade de caça carrega em si um acentuado sadismo. Quantas vezes o caçador não se vê diante do animal agonizando? Ou então dos filhotes em desespero diante do corpo da mãe morta?
Embora a série forneça elementos para se refletir sobre esse possível "link" entre o prazer de matar animais e crimes contra pessoas, claro que o documentário foca em todo o processo judiciário que envolveu o caso da morte do herdeiro da Yoki e... faz isso de forma brilhante dando espaço igual tanto para os promotores quanto para os advogados contarem como agiram na época.
A série de apenas quatro capítulos é excelente... muito bem construída, narrada e produzida.
E é a própria Elize quem conta como foi seu passado, casamento e dia do crime.
A pergunta que fica no ar é: o crime foi premeditado ou ocorreu no calor de uma situação? A série nos envolve em vários novos elementos sobre o crime e assim nos permite um exercício investigativo e de dedução.
Fátima ChuEcco - Jornalista e Escritora, autora da série de reportagens "Matadores de Animais - Assim começa a carreira de um psicopata" que em parte vc acessa AQUI