Por que resiste um conceito de que os animais (exceto os humanos) são irracionais? Desde que os humanos começaram a perceber que os demais animais podem sentir dor física e emocional, ou seja, ter sensações e sentimentos muito parecidos com os nossos, convencionou-se dizer que eles são "sencientes".
Inclusive, a expressão "A questão não é se os animais pensam, mas se eles sofrem", do defensor de direitos animais Jeremey Bentham (1748-1832), é praticamente um lema da causa animal. É fácil perceber quando um animal está bravo, alegre, assustado ou triste, como também é inegável que sentem dor, calor, frio, fome e outras reações orgânicas assim como também sentimos.
Então por que resiste um conceito de que são irracionais?
A Ciência considera o ser humano o primata mais evoluído porque possui inteligência, senciência e raciocínio que seria a capacidade de reconhecer a si mesmo e aos demais, fazer julgamentos e tirar conclusões, agindo assim além do instinto.
Alguns autores situam o Raciocínio como um elemento da Inteligência e o comparam à noção de moral, conhecimento do que é certo ou errado e a capacidade de planejar algo em função do que exista a nossa volta. E isto é, segundo os cientistas, a grande brecha entre nós e "eles".
Quando o Espiritismo surgiu nos anos de 1800, especialmente com a ajuda de Alan Kardec, dizendo que os animais possuíam alma, isso foi extremamente revolucionário numa época em que graças a filósofos como René Descartes e cientistas como Ivan Pavalov, os animais eram considerados meros objetos.
Então, enquanto uma poderosa comunidade de respeitados pensadores reduzia os animais a "coisas" que nada sentem ou querem, o Espiritismo divulgava (diga-se de passagem com muita ousadia) que os animais eram inteligentes (porque podiam escolher o que fazer tendo assim livre-arbítrio), tinham sensações e sentimentos bons e ruins como os dos humanos e também possuíam alma.
Foi a primeira contribuição realmente significativa para que a humanidade passasse a ver os animais com outros olhos.
Mas, mesmo para uma nova doutrina que colocava os animais num outro patamar, era difícil naquele tempo adicionar "moral" aos seres de quatro patas, penas, escamas etc. O Espiritismo ajudou demais... demais mesmo os animais citando que eram possuidores de quatro elementos: 1) inteligência, 2) sentimentos como alegria, raiva, tristeza etc, 3) sensações físicas como dor, calor, frio e fome, e 4) Alma (inclusive sujeita à reencarnação).
Isso foi muito FORTE. Muito Novo e Forte.
Mas ainda faltava um Quinto Elemento para igualar os demais animais aos humanos: a Moral que, segundo o espiritismo e muitas outras religiões, é o conceito do certo e errado, o reconhecimento de si mesmo e dos outros como indivíduos e a vontade de progredir espiritualmente (ou moralmente).
O Quinto Elemento ou a Moral pode ser encaixada como Raciocínio e, para muita gente, inclusive protetores de animais, os animais desconhecem a Moral por serem puros como as crianças bem jovens.
Será que na verdade os animais não são puros apenas enquanto ainda são crianças (filhotes)?
Será que eles não têm índole que torna uns mais agressivos que outros?
Será que não possuem personalidade construída com base nas experiências que tiveram desde o nascimento?
Por que animais nascidos nas mesmas condições, recebendo os mesmos cuidados e carinho, têm comportamentos muitas vezes até opostos? Isso não seria um demonstrativo de Moral?
Chega um filhotinho na casa que já tem cães adultos machos. Um deles bate e rosna pro filhote enquanto o outro lambe e tenta acolher. Duas reações contrárias: uma de empatia e outra de ciúmes ou raiva. O que faz um cão ser amável com o filhote e outro não?
Uma vez vi um documentário sobre um grupo de chimpanzés onde o irmão do líder tentou roubar-lhe o poder. Tentou ganhar aliados e o chamou para um feroz combate a fim de expulsá-lo. No entanto, algo deu errado. O líder demonstrou mais força física, lutou melhor e rapidamente os supostos aliados do traidor se intimidaram.
O chimpanzé gravemente ferido fugiu para dentro da floresta. Estava definhando porque não tinha forças para buscar alimentos, subir em árvores ou procurar abrigo. Ele ia morrer sozinho. Então seu irmão aparece e lhe estende a mão (grandes primatas possuem mãos e não patas). Eles voltam juntos para o grupo.
Parece fantasia, mas tudo foi filmado de diversos pontos onde havia câmeras nessa comunidade estudada já há vários anos. O encontro dos dois, apesar de meio distante, pôde ser visto.
Isso não é Moral?
Lendo o livro "Os Animais conforme o Espiritismo" de Marcel Benedeti (veterinário espírita já falecido), o autor também reflete sobre a questão da moral nos animais. Na verdade, esse livro atualiza o conceito do Espiritismo sobre os animais e faz isso de uma forma leve, sem críticas.
Marcel reconhece que se falar que os animais tinham inteligência, sentimentos e até alma já era uma coisa extremamente ousada para a época de Alan Kardec, imagine cogitar que também eram dotados de Moral.
Marcel cita que o O Livro dos Espíritos diz: "os animais só possuem a inteligência da vida material. No homem a inteligência proporciona a vida moral". Marcel acrescenta: "Hoje já se sabe que os animais não agem somente por instintos e possuem inteligência elevada. Atualmente a Ciência mostra que os animais possuem capacidade criadora e cultural".
No decorrer do livro de Marcel a gente percebe o quanto o Espiritismo trouxe à luz o universo inteligente, sensível e espiritual dos animais. Foi um avanço imensurável! Mas Marcel também dá a entender que era cedo demais para se falar que animais tinham também moralidade.
Um detalhe que me incomodava sobre o conceito espírita a cerca dos animais era o de tratá-los como "irmãos inferiores". Mas nesse livro de Marcel isso é explicado. A palavra "inferior" talvez pudesse ser melhor substituída por "anterior" porque, segundo o Espiritismo, os espíritos encarnam como vegetais, depois como animais não-humanos e finalmente como humanos.
Então a palavra "inferior" não quer nesse contexto dizer "menor ou sem importância". Os animais estariam num estágio evolutivo anterior ao nosso e não necessariamente inferior porque cada criatura tem igual valor no universo em que reencarna.
Estou mencionando isso porque tem muita coisa na doutrina espírita que me encanta, mas eu sei que a expressão "irmãos inferiores" incomoda um pouco quem ama esses seres incríveis. Lendo o livro do Marcel entendi que a ideia central não é de fato inferioridade e sim anterioridade - não é um estágio menos importante... é apenas anterior ao da reencarnação humana.
Quanto a essa maneira de explicar a evolução espiritual não cabe a mim argumentar a respeito. Existem milhares de visões diferentes sobre isso. Eu acredito que os demais animais têm tudo que temos, inclusive índole, personalidade e Moral... e que há planetas ou corpos celestes onde o humano não é a raça dominante e outros onde nem existem humanos.
Se quiser deixe sua opinião.
Darwin já sabia de tudo isso!
Tem uma trecho do livro "A expressão das emoções nos homens e nos animais" de Charles Darwin que eu adoro:
"Ações de todos os tipos, acompanhando regularmente algum estado de espírito, são de pronto reconhecidas como expressivas. Podem consistir de movimento de qualquer parte do corpo, como o abano da cauda de um cão, o encolhimento dos ombros de um homem, o eriçamento de pelos de um gato, a exsudação de suor, o estado da circulação capilar, a respiração forçada e o uso de sons vocais ou produzidos por algum instrumento. Até os insetos exprimem raiva, terror, ciúme e amor com sua estridulação".
Leia a matéria completa em
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Fotos/Pinturas: Do extraordinário Donald Roller Wilson
Texto: Fátima Chu🌎Ecco, jornalista especializada em pets 🐶, escritora e gatóloga 😸. Fundadora da www.miaubookecia.com (especializada em fotolivros sobre animais e crianças) e da http://buscacats.blogspot.com (única consultoria especializada em gatos perdidos). Ministra a palestra "O Poder Curativo dos Gatos", em breve em formato de livro e faz numerologia associada ao Tarô dos Gatos e dos Cachorros. 😸😻😺🐕🐈