quinta-feira, 2 de maio de 2013

BUYLING CONTRA JORNALISTAS





             Jornalistas mulheres e povo protestam contra censura na época da Ditadura

Em defesa do jornalismo no sentido moral

Ultimamente tenho visto ataques aos jornalistas em diversas palestras e cursos sobre espiritualidade. Não foi só uma vez e nem num só local.  É comum o discurso: “Não assistam jornal pq só passa notícia ruim. Jornal que não dá má notícia não vende”.  É um verdadeiro buyling para jornalistas que estejam na plateia desses eventos. Sem contar que é também um desrespeito. Será que os valores sociais mudaram? Os jornalistas viraram inimigos da população? Ou estão apenas destruindo o mundo cor-de-rosa das pessoas que não querem ver nada além de seus próprios umbigos? Bom... para essas pessoas que não querem sair de sua zona de conforto existe o controle remoto. Só lê e assiste notícias quem quer. Mas o que me incomoda um pouco é essa aversão que está sendo criada a uma profissão que, historicamente, sempre ajudou a construir um mundo melhor em pequenas ou grandes escalas.


Como é que ficamos a par do que acontece no nosso país e no resto do mundo? Quem são os profissionais que descobrem corruptos, desvios milionários de verba, que denunciam injustiças, que mostram os bastidores da saúde pública e da educação? Quantos já não morreram denunciando traficantes, políticos, empresários e outros malfeitores? Quantos não arriscam a própria vida para mostrar as atrocidades das guerras? Quantos não cobrem enchentes, desabamentos, tsunamis e outras tragédias naturais cujas imagens contribuem para que surja ajuda internacional aos necessitados? Quantas revoluções, mudanças de leis e até de constituição não foram possíveis graças a atuação de jornalistas?


Sabemos que existe uma imprensa sensacionalista que explora ao máximo  cenas de violência, mas porque existe um público cativo para isso.  Tb sabemos que existem jornalistas que se vendem, assim como existem médicos e advogados irresponsáveis.  Em toda profissão há profissionais de índole duvidosa e capazes de tudo para ganhar dinheiro. Mas não é justo generalizar. Os benefícios do jornalismo sério e investigativo são imensuráveis. Além disso, não é verdade que jornal só tem notícia ruim. Como é que ficamos sabendo de uma nova vacina, tratamento médico ou qualquer outra descoberta que melhore nossa vida? É o jornalista que dissipa tb as boas notícias... e são muitas. É pelo jornal que tomamos conhecimento de muita coisa bacana. Sem o jornalismo estaríamos vivendo cada um em seu pequeno mundo, se preocupando apenas com sua própria prole. Aliás, dá para imaginar um mundo sem notícia?


Numa dessas palestras que buscam incentivar uma vida mais espiritualizada, uma pessoa comentou que existem profissões “especiais” porque ajudam muita gente: médicos, bombeiros, policiais, assistentes sociais... Ninguém mais lembra da missão que um jornalista carrega e cumpre em sua carreira? Ninguém mais faz ideia do poder da comunicação? Das mudanças positivas que se consegue por meio das notícias? No mundo todo a imprensa esteve envolvida e se sacrificou por mudanças em benefício do povo. E continua fazendo isso até hoje. Aqui mesmo no Brasil, quem viveu a Ditadura sabe o que os jornalistas passaram, como foram torturados e “desapareceram”. 


Até umas duas décadas atrás, o jornalismo tinha certo glamour.  A profissão trazia incutida em sua essência a missão de melhorar a vida das pessoas e do planeta. Todo jornalista que passou por jornal ou revista teve oportunidade de fecundar notícias de esperança, de jogar luz sobre algum fato que precisava ser mostrado, de promover o bem por meio da palavra, muitas vezes, ajudado pela força das imagens. Há exceções, mas grande parte dos jornalistas escolhe essa profissão como missão e quer fazer uso das reportagens e das palavras para melhorar a cidade, o Estado, o país e até o mundo em que vivemos. Agora... jornal não é mesmo entretenimento aconselhável para quem pretende viver numa redoma de vidro, se omitindo de conhecer outras duras realidades e se poupando de interferir para que as mesmas mudem. E, além do mais, quem quer ver boas notícias, em primeiro lugar, deve ajudar a construí-las. A Terra não é colônia de férias!


 Reflexões de Fatima ChuEcco

4 comentários:

  1. Bom texto! O problema no Brasil é que o bom jornalismo, que sempre teve como compromisso o fato, hoje é visto por uma parcela grande dos formadores de opinião como "golpista", somente por se negar a publicar versões. Há algo semelhante ocorrendo contra historiadores. Isso tudo por causa de uma visão míope dita de "esquerda" ou "progressista", incrustada na área de humanidades da academia - que aliás é uma tremenda panela de vaidades.

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  2. Interessante a abordagem.

    O problema para a maioria da pessoas é o lugar comum, repetem a maioria das frases sem refletir sobre o assunto. Nada melhor e mais fácil do que achar um bode expiatório.

    De qualquer forma, o problema não é a profissão de jornalista, afinal todos fazemos parte da mesma sociedade.

    A melhor pergunta é o que cada um está fazendo para melhorar a vida no planeta? Não tem como cada um de nós se excluir do todo que é a nossa sociedade.


    Cada um tem a sua parcela de responsabilidade.

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  3. É isso mesmo amiga jornalista. Obrigada pelo comentário.

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