Jornalistas mulheres e povo protestam contra censura na época da Ditadura
Em defesa do jornalismo no sentido moral
Ultimamente tenho visto ataques aos jornalistas em diversas
palestras e cursos sobre espiritualidade. Não foi só uma vez e nem num só local. É comum o discurso: “Não assistam jornal pq
só passa notícia ruim. Jornal que não dá má notícia não vende”. É um verdadeiro buyling para jornalistas que
estejam na plateia desses eventos. Sem contar que é também um desrespeito. Será
que os valores sociais mudaram? Os jornalistas viraram inimigos da população? Ou
estão apenas destruindo o mundo cor-de-rosa das pessoas que não querem ver nada
além de seus próprios umbigos? Bom... para essas pessoas que não querem sair de
sua zona de conforto existe o controle remoto. Só lê e assiste notícias quem
quer. Mas o que me incomoda um pouco é essa aversão que está sendo criada a uma
profissão que, historicamente, sempre ajudou a construir um mundo melhor em
pequenas ou grandes escalas.
Como é que ficamos a par do que acontece no nosso país e no
resto do mundo? Quem são os profissionais que descobrem corruptos, desvios
milionários de verba, que denunciam injustiças, que mostram os bastidores da
saúde pública e da educação? Quantos já não morreram denunciando traficantes,
políticos, empresários e outros malfeitores? Quantos não arriscam a própria
vida para mostrar as atrocidades das guerras? Quantos não cobrem enchentes,
desabamentos, tsunamis e outras tragédias naturais cujas imagens contribuem
para que surja ajuda internacional aos necessitados? Quantas revoluções,
mudanças de leis e até de constituição não foram possíveis graças a atuação de
jornalistas?
Sabemos que existe uma imprensa sensacionalista que explora
ao máximo cenas de violência, mas porque
existe um público cativo para isso. Tb
sabemos que existem jornalistas que se vendem, assim como existem médicos e
advogados irresponsáveis. Em toda
profissão há profissionais de índole duvidosa e capazes de tudo para ganhar
dinheiro. Mas não é justo generalizar. Os benefícios do jornalismo sério e
investigativo são imensuráveis. Além disso, não é verdade que jornal só tem
notícia ruim. Como é que ficamos sabendo de uma nova vacina, tratamento médico
ou qualquer outra descoberta que melhore nossa vida? É o jornalista que dissipa
tb as boas notícias... e são muitas. É pelo jornal que tomamos conhecimento de
muita coisa bacana. Sem o jornalismo estaríamos vivendo cada um em seu pequeno
mundo, se preocupando apenas com sua própria prole. Aliás, dá para imaginar um mundo sem notícia?
Numa dessas palestras que buscam incentivar uma vida mais espiritualizada, uma pessoa comentou que existem
profissões “especiais” porque ajudam muita gente: médicos, bombeiros,
policiais, assistentes sociais... Ninguém mais lembra da missão que um
jornalista carrega e cumpre em sua carreira? Ninguém mais faz ideia do poder da
comunicação? Das mudanças positivas que se consegue por meio das notícias? No
mundo todo a imprensa esteve envolvida e se sacrificou por mudanças em
benefício do povo. E continua fazendo isso até hoje. Aqui mesmo no Brasil, quem
viveu a Ditadura sabe o que os jornalistas passaram, como foram torturados e “desapareceram”.
Até umas duas décadas atrás, o jornalismo tinha certo glamour. A profissão trazia incutida em sua essência a
missão de melhorar a vida das pessoas e do planeta. Todo jornalista que passou
por jornal ou revista teve oportunidade de fecundar notícias de esperança, de
jogar luz sobre algum fato que precisava ser mostrado, de promover o bem por
meio da palavra, muitas vezes, ajudado pela força das imagens. Há exceções, mas
grande parte dos jornalistas escolhe essa profissão como missão e quer fazer
uso das reportagens e das palavras para melhorar a cidade, o Estado, o país e
até o mundo em que vivemos. Agora... jornal não é mesmo entretenimento
aconselhável para quem pretende viver numa redoma de vidro, se omitindo de
conhecer outras duras realidades e se poupando de interferir para que as mesmas
mudem. E, além do mais, quem quer ver boas notícias, em primeiro lugar, deve ajudar a construí-las. A Terra não é colônia de férias!
Reflexões de Fatima ChuEcco
Bom texto! O problema no Brasil é que o bom jornalismo, que sempre teve como compromisso o fato, hoje é visto por uma parcela grande dos formadores de opinião como "golpista", somente por se negar a publicar versões. Há algo semelhante ocorrendo contra historiadores. Isso tudo por causa de uma visão míope dita de "esquerda" ou "progressista", incrustada na área de humanidades da academia - que aliás é uma tremenda panela de vaidades.
ResponderExcluirObrigada por dar sua opinião.
ExcluirInteressante a abordagem.
ResponderExcluirO problema para a maioria da pessoas é o lugar comum, repetem a maioria das frases sem refletir sobre o assunto. Nada melhor e mais fácil do que achar um bode expiatório.
De qualquer forma, o problema não é a profissão de jornalista, afinal todos fazemos parte da mesma sociedade.
A melhor pergunta é o que cada um está fazendo para melhorar a vida no planeta? Não tem como cada um de nós se excluir do todo que é a nossa sociedade.
Cada um tem a sua parcela de responsabilidade.
É isso mesmo amiga jornalista. Obrigada pelo comentário.
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