A animada turma do Togo com os palhaços do evento
Estive no último dia da Copa dos Refugiados com duas amigas.
Difícil não se envolver com tantas pessoas ávidas por conversar e travar
amizade com brasileiros ou com outros refugiados que passaram por dramas
semelhantes. Cheguei aflita para saber se a República Democrática do Congo
tinha vencido o jogo, pois, desenvolvi uma enorme simpatia por aquele povo
mergulhado há anos em conflitos e tendo que sobreviver aos ataques de pelo
menos três milícias diferentes.
Venho conhecendo alguns congoleses à distância desde 2007
quando abracei a causa dos gorilas das montanhas. Em 2009 tive autorização da
ONU/Pnuma para criar um hot site para o Ano Internacional do Gorila e à medida
que acompanhava a situação dos gorilas, tb tomava conhecimento das atrocidades
cometidas contra o povo congolês. Eu me apaixonei pelo trabalho dos guardas
florestais do Parque Nacional de Virunga e meu coração passou a bater um pouco
lá... esperançoso das coisas melhorarem... mas não foi assim.
Rapper Romeo G de Angola
Daí pra Copa... achei sensacional a ideia de uma
confraternização entre os refugiados tendo como pano de fundo o futebol e no
país que sediou a última Copa do Mundo (vide post abaixo). E queria ter braços
bem compridos (tipo sanduíche de metro) pra abraçar a todos, dar um pouco de conforto
e esperança. Conversei com o rapper Romeo Guslarine, de Angola, um dos autores
do Hino da Copa dos Refugiados (no post abaixo tem o link do Hino no you tube):
“Esse é um momento de ficarmos juntos sem política, sem guerra e com muito
respeito uns pelos outros. Eu vivia mais isolado, mas com esse evento pude
fazer várias amizades e conhecer pessoas que enfrentaram problemas como os que
enfrentei”.
O grupo do Togo estava animado. Perderam o jogo, mas estavam
felizes em participar do evento. Idissou Rawone está no Brasil há três meses,
arranha no português e está procurando trabalho como carpinteiro: “O Brasil é
uma oportunidade. Meus pais morreram e eu vim tentar a vida aqui. A Copa está sendo
muito boa para nós. Está tudo muito bem organizado”. Mas voltando aos
congoleses... ah sim... estavam numa roda criando seus próprios raps...
animados e comemorando o início de uma nova vida. Não ganharam o jogo, mas uma
porta se abriu para eles no Brasil graças aos trabalho do Caritas e do Acnur.
General no Campo dos Refugiados
Sou jornalista há 25 anos e já vi de tudo no meio da
imprensa. Como em qualquer outra profissão, há bons e maus jornalistas. Tem
assessor de imprensa que acolhe a mídia e outros que bancam o “dono do evento”.
Na Copa dos Refugiados havia uma assessora de imprensa da Caritas que parecia mais um “general
em campo de refugiados” e do jeito que ela abordou a mim e minhas acompanhantes
até nos sentimos um pouco refugiadas também. “Da onde vcs são?” – foi a pergunta
dela ao cortar bruscamente nossa conversa sem sequer se apresentar e explicar porque desejava saber a nossa “origem”.
Notando sua postura prepotente minha amiga respondeu que “somos
o que somos”. A general não se conformou e insistiu na
pergunta por três vezes. Então, pra tranquilizá-la, respondi que era
jornalista, voluntária das ações em defesa dos gorilas do Congo, simpatizante dos congoleses e que tinha convidado minhas amigas pra apreciar o evento porque achei a ideia muito bacana. Sem qualquer meio-tom, ela foi dizendo que
não podíamos ter falado ou fotografado ninguém sem pedir permissão e ainda
acrescentou que o evento era “fechado”.
Em toda a imprensa saiu que se tratava de um evento aberto e
gratuito. Eu recebi release da assessoria de imprensa com a mesma informação.
Divulguei o evento no intuito de ajudar os refugiados a interagirem com os
brasileiros, afinal, é assim que podem surgir oportunidades de trabalho e
outros tipos de ajuda. Fiz isso com o maior carinho e com total
profissionalismo (vide post abaixo) e, de repente, estava diante de uma general
afirmando que até a Globo tinha noticiado errado e que não é porque a porta do
campo estava aberta que podíamos entrar. Acreditam nisso? Eu e minhas amigas
fomos hostilizadas num evento que justamente combate hostilização de estrangeiros.
As pessoas que fotografei permitiram e quiserem ser fotografadas.
Ficamos de trocar fotos pela internet. Tudo absolutamente normal. Eu e minhas
amigas, como creio q outras pessoas ali presentes, queriam conversar com os
refugiados, se aproximar e ajudar. Afinal, podemos conhecer alguém que precisa
de um carpinteiro, pedreiro, cozinheiro e até mesmo ter um amigo dono de bar ou
locutor de rádio que pode abrir espaço para rappers e cantores refugiados.
Dou curso de assessoria de imprensa e uma coisa
que sempre recomento é: não sejam prepotentes, não se sintam donos dos eventos
e muito menos pensem que estão prestando um favor aos jornalistas atuantes em
mídia. O assessor deve facilitar o contato com a fonte... assessor é “ponte” de
contato e deve fazer isso da maneira mais fluída possível. Mas na Copa me
deparei com uma assessora que simplesmente estava ali interrompendo o fluxo...
um fluxo que seria benéfico aos próprios refugiados e que, além de grosseira, foi
tb debochada.
Pena que não sei o nome dela, pois, como disse no início,
ela nos abordou grosseiramente sem nem sequer se identificar. Ficamos tão
desapontadas com o tratamento da “general sem nome” que fomos embora antes do
final da Copa. Fomos pra lá com o coração aberto, dispostas a conhecer e ajudar
pessoas, a divulgar uma causa, a incentivar outras pessoas a acolherem os
refugiados... mas acabamos nos sentindo as próprias refugiadas, absolutamente
hostilizadas por uma pessoa que não tem qualquer bom senso ou postura pra atuar
num evento como esse. Mas como eu disse no título: valeu... só pelos refugiados.
OBS.: ESSE é um case que será abordado em meus próximos cursos de assessoria de imprensa. Reparem que sobre o evento escrevi quatro parágrafos e sobre a hostilização que sofri com minhas amigas escrevi seis. Uma falha na assessoria do evento me fez ir embora mais cedo e ter menos conteúdo para escrever sobre a Copa. Tem assessores fabulosos, que encurtam o caminho do jornalista e ajudam de verdade a construir uma matéria... mas outros tratam os colegas da mídia como inimigos e com isso só prejudicam os clientes, os eventos e a si mesmos.
Fui ao evento pelo meu blog, mas tb atuo nas revistas Moema&Campo Belo, Jardins Life Style, Perdizes, Higienópolis, Vila Nova Conceição e Meu Pet
Fui ao evento pelo meu blog, mas tb atuo nas revistas Moema&Campo Belo, Jardins Life Style, Perdizes, Higienópolis, Vila Nova Conceição e Meu Pet
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