quarta-feira, 11 de maio de 2016

POR QUE MESMO NÃO SENDO RACISTA VC TEM TUDO A VER COM O PRECONCEITO?

                                 Princesa Izabel já idosa, em Paris. Ela morreu com 75 anos

Porque para a construção de um mundo mais justo e de igualdade cada um de nós tem que plantar uma semente. Porque mesmo não sendo professores ou escritores, cada um de nós é pai, mãe, tio, tia, vizinho ou amigo de negros. Acompanhe o raciocínio abaixo e veja que semente vc pode plantar.

Fazem apenas 128 anos que os negros se tornaram livres no Brasil, ou seja, pouco mais de um século. A Abolição da Escravatura no Brasil se deu em 13 de maio de 1888 pela Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel que, por sua vez, era filha de D.Pedro II, nascida no Rio. Se pararmos para pensar, trata-se de um fato relativamente recente. Jovens negros da atualidade podem ter tido bisavós escravos. E 128 anos não é tempo suficiente para grandes mudanças. Além disso, quando libertados, os negros caíram automaticamente na camada mais pobre da população da época, com quase nenhum acesso aos estudos e trabalhos de níveis e salários menores. A maioria continuou prestando serviços braçais por não saber fazer outra coisa e nem ter melhores oportunidades de emprego.

Isso é um fato. O outro é que, independente da trajetória física, isto é, a trajetória dos negros no tempo e espaço, persiste uma discriminação racial visível a qualquer pessoa. Eu, por exemplo, me formei em Jornalismo nos anos 90 e na minha sala havia apenas dois negros entre 60 alunos. Isso porque era Jornalismo, um curso de meio período e normalmente mais barato. Em Medicina nem se fala! Quantos médicos e dentistas negros a gente vê em atuação? Na formatura da minha sobrinha, já no século XXI (e pelo menos um século após a Lei Áurea) não havia nenhum formando negro na faculdade que ela cursou. Todos os negros presentes na festa eram convidados dos formandos ou garçons e porteiros.

      Beyoncé é uma das negras mais famosas e ricas do planeta, mas quantas chegam a esse ponto?

Essa semana mesmo a Record está exibindo uma série de reportagens sobre a situação dos negros e pardos no Brasil. Sãos os mais pobres e a maioria dos desempregados e, inclusive, quando empregados, ganham menos. Claro que temos vários exemplos de negros bem-sucedidos no mundo do esporte e das artes, mas dá para contar nos dedos. Ainda hoje, 128 anos após a abolição da escravatura, os atores negros ainda fazem, preferencialmente, papel de escravos, empregados e bandidos nas novelas, minisséries e filmes. Dificilmente o negro é visto como grande empresário, ricaço, galã ou protagonista da novela. Uma das raras exceções é Mister Braum.

Nos últimos anos, o mundo publicitário tem dado alguma colaboração para que isso mude. Há várias propagandas com negros, mas ainda são tímidas perto da avalanche de brancos pilotando carros de luxo, usando perfumes caros e protagonizando comerciais de inúmeros produtos.

Cabelo de princesa

Uma propaganda que me pareceu “gritante” ao deixar bem claro o quanto a discriminação ainda é forte (e reforçada o tempo todo) foi “Cabelo de Princesa” com menininhas brancas tratando os cabelos com um determinado xampu. Não havia uma só representante negra ou parda. Fiquei imaginando como se sentiram as garotinhas negras assistindo aquela propaganda. Cabelo de princesa longo e liso é um conceito marcante em nossa sociedade que afeta diretamente as novas gerações de negros que crescem assistindo que a beleza se encontra apenas nas crianças e pessoas de cor branca.
Outro ”reforço” na infância contra os negros se dá pelos clássicos livros de história... e até nos mais modernos. Heróis, príncipes e princesas são sempre brancos, com raríssimas exceções. 

Isso alimenta a autoestima da criança branca que consegue se identificar com aqueles personagens “fortes, corajosos, bonitos e do bem”, mas deixa as crianças negras no vácuo, com sensação de impotência, sem referência de heróis e princesas com seu tom de pele.

Nos grandes clássicos infantis como A Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Alice no País das Maravilhas, Chapeuzinho Vermelho etc não há negros. Claro que os escritores desses clássicos criaram personagens de acordo com a sociedade em que viviam e em que o negro era uma figura nula. Não podemos criticá-los por isso pois eles criaram de acordo com a época em que viviam. Mas novas versões desses clássicos, que aliás são feitas aos montes especialmente para as telas de cinema, poderiam conter negros no papel dos protagonistas. 

Além disso, novas histórias infantis precisam ter mais negros nos papeis principais para inspirar (e educar) as crianças brancas e negras no sentido de que para ser herói, príncipe e princesa, bonito e justo, a cor da pele não importa.

As editoras e escritores, roteiristas de novelas e filmes... todos têm um papel crucial nessa mudança. Não adianta de forma alguma tentar combater o racismo em adultos se nada for feito na infância porque é lá que se formam os conceitos e que se consegue inserir o respeito pelo próximo, a admiração pelo próximo, o reconhecimento do outro como um ser igual de direitos e idênticas capacidades.

Ághata Borralheira negra?

No Dia das Crianças do ano passado, por acaso, entrei numa loja de brinquedos. Não havia bonecas negras, réplicas de heróis negros e poucos bichinhos de pelúcia de cor preta (para falar a verdade quase nenhum). Tentei me colocar no lugar de uma menininha negra percorrendo aquela loja em busca de um presente. Eu não conseguiria levar para casa uma linda boneca negra com coroa de princesa e onde eu pudesse me espelhar. Também não acharia um gatinho ou cachorrinho preto de pelúcia representando a cor dos animais que mais são abandonados nas ruas e sobram nos abrigos.


Claro que dificilmente uma criança vai questionar essa “ausência” de brinquedos com os quais ela se identifique, mas isso entra de forma natural na mente dela construindo um sentimento de exclusão. Enquanto isso, as crianças brancas que percorrem a mesma loja se veem em toda parte. À primeira vista isso pode parecer “inofensivo”, porém, mais tarde trará sérios danos para o conceito de igualdade. E isso é também um FATO, igual ao de que a abolição da escravatura está relativamente recente e causa ainda reflexos nos negros e pardos.

CADA UM DE NÓS É RESPONSÁVEL PELA MUDANÇA

Nem todo mundo é professor, escritor, roteirista ou cineasta. Mas todo mundo é uma dessas coisas: pai, mãe, tio, tia, madrinha, padrinho, vizinho ou amigo de uma criança negra ou parda. Todo mundo tem filhos, sobrinhos ou amigos com filhos em escolas onde negros e brancos crescem e aprendem juntos. Por isso cada um de nós pode incentivar a leitura de histórias onde o negro tem status de personagem principal (e do bem!). Procurem e deem livros com personagens negros. Educadores: recomendem e apliquem histórias com personagens negros em sala de aula.

Com base em minha experiência profissional e de vida, e especialmente aquela visita à loja de brinquedos, e também por ter uma gata preta que é especialmente muito comunicativa e ativa, tive a ideia de refazer alguns clássicos infantis com protagonistas na pele de uma gatinha negra – assim além de inserir o negro no universo infantil também posso motivar as crianças a amarem e respeitarem animais de todas as cores, pois, como dito acima, são também os animais de cor preta que mais sofrem com abandono nas ruas e passam a vida  nos abrigos sem serem adotados. É REFLEXO DO RACISMO. Quem não respeita o humano negro, dificilmente terá respeito pelo animal preto.


O projeto Ághata Borralheira (que é o nome da minha gatinha) compreende uma série de histórias clássicas repaginadas no sentido de encantar e sensibilizar crianças e adultos para a questão do racismo. O facebook da Ághata Borralheira já está em atividade com muitas fotos, vídeos e histórias inspiradoras sobre animais. Se você acha que pode contribuir para com essa causa, se acha importante plantar essa semente nas futuras gerações para construir um mundo mais justo e igualitário, visite o facebook da Ághata e participe. Abaixo alguns vídeos que apresentam a Ághata Borralheira para o público







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