Está na
Bíblia (Mateus 25:14 a 30) e no Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan
Kardec. Parece uma história com mensagens bem restritas à época em que foi
escrita, mas se a gente parar para pensar, na verdade tem a ver até com a vida
corporativa dos dias de hoje, passados mais de 2 mil anos. E, além disso, pode
ser uma boa sugestão para nossa vida e conduta profissional.
Vou comentar conforme entendi, mas na Internet tem muitas outras reflexões a respeito. Reflita também e, se quiser, poste nos comentários seu entendimento do tema.
Parábola
Um Senhor
sai de viagem e deixa seus 3 funcionários encarregados de cuidar de seus
“talentos” que, na época, eram peças de ouro e prata, como moedas. Um funcionário
ficou com 5 talentos, outro com 2 e outro com um. Os dois primeiros investiram
os talentos e dobraram o valor. O terceiro, que tinha só um talento, enterrou-o.
Na volta o
Senhor ficou feliz com o funcionário que transformou 5 talentos em 10 e com o
que tinha dobrado 2 talentos em 4. Mas chamou de inútil e preguiçoso aquele que tinha lhe
devolvido o único talento do qual ficara encarregado. Condenou o homem as
trevas, pegou seu talento e deu ao funcionário que estava com 10 talentos.
Parece justo? E o perdão? E a segunda chance? - podemos nos perguntar
Todo muito tem algum "talento" para doar. Foto Kimthecoach/Pixabay
Vamos
transportar a cena para o cenário de negócios de hoje. Vamos imaginar que os
dois funcionários que multiplicaram os talentos (dinheiro nos tempos atuais) foram “promovidos”, ao passo que
aquele que não investiu seu único talento (a pequena quantia que recebeu) foi sumariamente demitido.
Vamos também
analisar a postura do rapaz demitido. Ele errou, não investiu, mas não foi por
mal e sim por medo de arriscar e perder o pouco que tinha.
Agora vamos
analisar a postura do “chefe” da empresa. Ele contratou 3 pessoas para fazer
seus “talentos” se multiplicarem. Esses 3 homens foram escolhidos porque de
alguma maneira demonstraram habilidade para fazer o dinheiro da empresa
crescer. Dois conseguiram isso e o terceiro apenas guardou o dinheiro.
Bem... o
chefe não precisa de um funcionário que “guarde” o dinheiro porque isso ele
mesmo pode fazer ou até enfiar num cofre.
Todo mundo sempre tem algum "talento" para doar. Foto Janaaa/Pixabay
Do ponto de
vista espiritual ou moral poderíamos pensar assim: mas ele merecia uma segunda chance
agora que viu como deve proceder. Certamente ele aprendeu.
Só que o
“chefe” da empresa não é Deus e não está ali para “ensinar” a trabalhar. Não
estamos falando de um programa de estagiários onde é permitido aprender com os
próprios erros. Estamos falando de 3 homens selecionados para multiplicar os
talentos de uma empresa e que, portanto, devem estar preparados para tal
função. A demissão é óbvia diante de um funcionário que não cumpriu com a meta,
que não satisfez as expectativas do chefe.
Esse é nosso
mundo. Então essa é a reflexão sobre o ponto de vista material e atual.
Agora vamos
mergulhar no mundo espiritual.
A gente vem
para essa vida com alguns “talentos” no duplo sentido da palavra: Talento no
sentido de habilidades natas e Talento representando condição social (pobre, rico etc). Nessa
grande empresa em que fomos colocados, que é a Terra, nosso dever é desenvolver
e multiplicar nossos talentos para o bem dos outros
e de todo o planeta.
A evolução
espiritual depende disso... dessa disposição em desenvolver as
habilidades com as quais já nascemos ou que tivemos oportunidade de desenvolver
ao longo dos anos e multiplicar isso tornando esses “talentos” ferramentas de
progresso também para os outros e para todo o planeta (recursos naturais,
animais etc).
Os que conseguem
multiplicar são promovidos a uma etapa mais serena nessa vida ou nas próximas
(para quem acredita em reencarnação como eu). Os que “guardam” seus talentos
estacionam na evolução e não contribuem para o progresso coletivo.
E como as
pessoas “guardam” talentos?
Não fazendo
uso do que “recebeu” (abafando uma habilidade por exemplo) ou só utilizando seus talentos para benefício próprio - o que seria um “mau uso” de seus talentos... ou seja, não repartindo ou compartilhando com os outros.
Doar é regra
básica da evolução espiritual: doa-se habilidades, dinheiro, conhecimento, palavras, bons
pensamentos, ombro amigo... do pobre ao mais rico, todo mundo tem o que doar.
Doar é o mesmo que multiplicar talentos.
Mesmo com bolsos vazios, todo mundo tem sempre algo para doar. Foto Tumisu/Pixabay
Mas o que
acontece com aqueles que enterram os talentos?
São jogados às trevas e punidos (como na parábola)? Não têm mais chance de acertar?
Nada disso
porque Deus, ou como queiram chamar uma essência divina ou uma matriz que gera
e conecta tudo que vive, oferece sempre chances de evolução... uma atrás da
outra.
Se você
guarda talentos numa empresa é demitido porque não correspondeu as expectativas de quem o contratou (essa é resposta do mundo
material/físico), mas do ponto de vista espiritual pode ter certeza que haverá
outras chances de acertar... de perder o medo de arriscar... e principalmente,
de doar. Até porque... lembre-se... nem sempre não responder às expectativas é necessariamente não estar apto para um determinado trabalho ou função... às vezes simplesmente vc não executa do jeito que gostariam.
Só que é preciso desapegar do que passou... e se preparar para o que
virá daqui pra frente guardando consigo apenas as lições aprendidas.
Todo mundo sempre tem algum "talento" para doar. Foto Gerd Altmann/Pixabay
Agora vamos
voltar à Parábola dos Talentos e imaginar o que pode ter acontecido com o rapaz
demitido.
Ele poderia
se revoltar e botar fogo na empresa (o que poderia gerar danos eternos a sua
reputação profissional – talvez até ser preso).
Poderia sobreviver o resto da vida com uma mágoa terrível
no peito achando que aquela tinha sido sua única oportunidade de crescimento.
Mas ele também
poderia buscar um novo trabalho igual ou diferente daquele e aplicar a lição de
multiplicar os talentos do seu jeito ou de um novo jeito aprendido.
Vale ressaltar que, por mais que a intenção dele tenha sido
boa e que sua atitude foi dominada justamente pelo medo de errar, ele errou (pelo menos diante dos olhos daquele "chefe")... mas erros a gente deixa pra trás pra poder pensar nos próximos acertos.
O pensamento
“se eu tivesse feito isso ou aquilo...” não leva a lugar nenhum porque não se
muda o passado. A gente tem que pensar no que dá pra fazer hoje... agora... com
a consciência de que virão novos erros porque ninguém é perfeito ou
infalível... ninguém... mas também virão os acertos.... e pra acertar é preciso
tentar... procurando deixar essa vida com mais talentos do que a gente tinha quando
aqui chegou.... obviamente talentos morais e espirituais... que são as moedas da evolução.
Foto de abertura Gerd Altmann/Pixabay
Fátima ChuEcco
Jornalista/Escritora