"Estava pele e osso, sem forças para nada. Se eu não a encontrasse ela teria morrido trancada naquele lugar", conta a tutora de SP.
Dara nunca tinha saído de casa, mas escapou numa noite, sem que a tutora visse, pela porta da frente. O pior é que sua ausência só foi notada no dia seguinte: "Cheguei do trabalho muito cansada e deixei a cachorrinha sair um pouco na calçada. Não percebi que Dara saiu e fui dormir. Na manhã seguinte foi que percebi que ela não estava em casa e daí pra frente foi uma corrida contra o tempo para encontrá-la".
Foram 37 dias de angústia procurando pela Dara nos arredores da casa e quarteirões próximos até que, finalmente, um pedreiro avisou que a gatinha estava num quartinho com material de construção e ferramentas que ele mesmo havia vedado a entrada. Ele cravou uma telha de PVC no solo e ainda reforçou a base com mais terra. Então não tinha como a gatinha sair.
Ou seja, Dara devia estar utilizando o lugar para se abrigar e saindo à noite em busca de alimento, mas quando o pedreiro interrompeu por um tempo a obra e fechou o quartinho, não percebeu que a gata estava lá dentro. E se ela miou ninguém ouviu ou nem desconfiou que o miado vinha do quartinho.
Dara voltando a comer normalmente sob o olhar atento da Teka |
Ações que salvam
Apesar do estado crítico em que Dara foi encontrada, ela certamente não ficou presa no quartinho por 37 dias, pois não teria sobrevivido tanto tempo. O mais provável é que Dara tenha tido acesso aos pontos de alimentação criados pela Josete, sob orientação da @BuscaCats, antes de ficar acidentalmente presa. Assim, ela já andava razoavelmente alimentada quando ficou, de repente, privada de comida, e por isso aguentou por mais tempo.
Água da chuva e uma ou outra barata talvez tenham sido suas únicas fontes de alimento por vários apavorantes dias sozinha naquele lugar.
Do quartinho Dara foi direto para uma clínica onde ficou internada.
"Quando soube que ela tinha sido resgatada saí correndo do trabalho. Quando ela me viu na clínica deu um miado alto, desesperado. A felicidade tomou conta de nós duas. No início foi preciso alimentá-la com seringa e na veia. Estava muito fraca. Dias bem difíceis, mas aos poucos ela está voltando a comer normalmente. Não estava ferida ou doente. O problema foi a falta de alimento", diz Josete.
Atenção: Imóveis em reforma, prédios em obra e locais com material de construção como esse onde Dara foi achada são os locais mais procurados por gatos perdidos além, é claro, de casas vazias, à venda ou abandonadas.
Por isso, quando Josete me procurou pela @BuscaCats a orientação foi checar todos os locais vazios ou em obra que, aliás, ela fez. No entanto, esse quartinho ficava num corredor onde vários outros quartinhos eram alugados e Josete não descobriu que um deles era só para guardar material de construção.
Três fatores contribuíram para o feliz reencontro: a fé, que sempre ressalto ser crucial nessas histórias com final feliz. Josete acreditava que iria achar a Dara.
Além disso, em segundo lugar, o quartinho tinha como vizinha a casa de sua prima, que também tem gatos. Então o pedreiro foi logo batendo na casa achando que podia ser um dos gatos dela.
E o terceiro fator foi a alimentação oferecida diariamente e de forma estratégica nos arredores da casa por orientação da @BuscaCats. Dara com certeza se beneficiou dos pontos de alimentação fixos, o que lhe deu condições de sobreviver por mais tempo quando ficou trancada sabe-se lá por quantos dias.
Essa emocionante história nos dá uma importante lição: não desista de procurar seu gato perdido por mais que você desanime no meio do caminho. Se ele estiver vivo e nos arredores (que é o mais comum de acontecer), ele depende principalmente de você para encontrá-lo e ele "conta" com isso.
Tenho certeza que, ao mesmo tempo em que Josete pensava o tempo todo na Dara, colava cartazes, distribuía panfletos e ração na vizihança, a gatinha Dara também pensava na Josete a cada minuto, sonhando com o dia em que aquela porta do quartinho se abrisse. E isso também deu forças para ela, nessa idade, superar a dura experiência.
Texto: Fátima ChuEcco, jornalista, escritora, consultora da @BuscaCats e fundadora da editora @Miaubookecia
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