Como dizia Charles Chaplin: "Um segundo é tempo suficiente pra mudar tudo pra sempre". Assim, o que era pra ser uma simples manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus em SP virou uma questão de honra pra população brasileira mostrar que tem direito de sair às ruas e reclamar. O segundo mencionado por Chaplin, nesse caso, foi a repressão policial. Possivelmente, se não houvesse violência gratuita contra manifestantes, jornalistas e pedestres em geral, esse movimento não teria crescido tanto. Mas explodiu da mesma forma que aconteceu na Turquia. Lá, tudo começou com uma manifestação minúscula com apenas 70 pessoas que, uma vez agredidas pela polícia, ganharam simpatizantes em todo o país. O mesmo parece estar ocorrendo no Brasil. A Parada Gay, por exemplo, começou com gays, mas hoje reune milhares de pessoas, inclusive heterossexuais, que apoiam a liberdade sexual. O Movimento Passe Livre conseguiu motivar outras pessoas, entidades e setores a expor seus direitos nas ruas.... e com isso ninguém contava, muito menos o governo.
De uma hora pra outra, várias figuras públicas e formadores de opinião começaram a repensar seus discursos. Arnaldo Jabor, que havia criticado a manifestação limitando-a a um pequeno grupo de jovens de classe média e alta que sequer usavam ônibus - uma espécie de rebeldes sem causa - voltou atrás. Gravou novo comentário admitindo que errou e que o motivo do protesto vai bem além dos 20 centavos. O VJ da MTV, PC Siqueira, gravou video de 10 minutos mostrando inúmeras razões para apoiar os manifestantes, ainda que não se queira sair às ruas. Ele argumenta que as pessoas que reclamam do trânsito no retorno do trabalho se esquecem que aqueles que estão nas ruas lutam por coisas que beneficiarão a todos. Rafinha Bastos também postou video em que defende o movimento e incentiva as pessoas a participarem. Ele diz que "parece um sonho ver as pessoas nem aí pro futebol e saindo as ruas para lutar por seus direitos".
Datena seguiu o exemplo de Jabor. Na quinta-feira se dizia contrário ao "vandalismo" da manifestação, mas depois, diante das centenas de imagens que não deixaram dúvidas, declarou que achou violenta a ação policial e se emocionou ao ver o povo nas ruas. A Globo, que foi criticada por ficar em cima do muro, teve uma postura diferente no Fantástico. O programa afirmou claramente que a polícia atirou em quem passava ou trabalhava sem qualquer motivo. A mídia em geral, diante de tantos jornalistas feridos e detidos, algo só visto na época da ditadura, tb passou a ver o movimento com outros olhos e é unânime a seguinte conclusão: os 20 centavos foram só estopim, a gota d`água que desencadeou uma revolta até então contida com relação a tudo que vai mal no pais: Transporte, Saúde, Educação... Aliás, em mesa redonda na TV Cultura, quatro jornalistas estrangeiros tb concordaram que o Movimento pode ter tido raiz nos 20 centavos, mas está claro que remexeu o íntimo dos brasileiros cansados de tanto descaso.
O ônibus em SP é um dos mais caros do mundo (com relação ao salário mínimo vigente em cada país)... e é o mais caro do Brasil. A qualidade, no entanto, é péssima. O tal direito de "ir e vir" é tb vandalizado no dia a dia das pessoas que precisam passar duas a quatro horas por dia em ônibus absolutamente lotados. Uma luta para ir e outra para vir. Se o transporte público fosse eficaz, mais pessoas deixariam seus carros em casa, e teríamos menos trânsito e menos poluição. Todo mundo sairia ganhando. Na Folha de hoje há uma reflexão muito interessante: "A cidade avançada não é aquela onde os pobres andam de carro, mas onde os ricos usam transporte público". Em SP, no entanto, um dos maiores sonhos de consumo é ter um "carrinho". Por que será?
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